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Eu (Augusto dos Anjos, 1912)/O Martyrio do Artista

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O Martyrio do Artista


Arte ingrata! E comquanto, em desalento,
A órbita ellipsoidal dos olhos lhe arda,
Busca exteriorisar o pensamento
Que em suas phronetaes céllulas guarda!

Tarda-lhe a Idéa! A Inspiração lhe tarda!
E eil-o a tremer, rasga o papel, violento,
Como o soldado que rasgou a farda
No desespero do ultimo momento!

Tenta chorar e os olhos sente enxutos!...
É como o paralytico que, á mingua
Da propria voz e na que ardente o lavra

Febre de em vão falar, com os dedos brutos
Para falar, puxa e repuxa a lingua,
E não lhe vem á bocca uma palavra!