Eu ouvi!
Vibrada no espaço de noite mui linda
Ferindo minh’alma com maga inflexão
Cadente eu ouvia de um Anjo da terra
Do imo do peito mui terna canção!
Dizia saudade — em accento magoado,
Sonoro — mavioso, inspirado por Deos —
Tão maga harmonia só era emanada
Do côro dos Anjos — dos Anjos dos Céus!
Casava co’as horas tardias da noite
De noite tão bella, de almo luar —
A voz merencoria qu’attento escutava
Lembrando continua meu triste penar.
Que doce soffrer infiltrou em minh’alma
Os sons desferidos por Virgem mimosa
Dizia o meu fado sem ella o sentir,
Lembrava-me a vida passada e saudosa!
Ouvi, como ouviram no monte Sinai
Os magos mandados á voz do Senhor,
Humilde e curvado o meu agro porvir —
Dos labios da Virgem, nos cantos d’amor!
E triste e pungido por este escutar
Que tanto extasiou-me, porque era saudoso —
A passos mais lentos, que a dôr que soffri —
Deixei, apartei-me do canto harmonioso!