Exaltados queriam linchar prefeito

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Com a Prefeitura em chamas, prefeito abandonou a cidade para não ser assassinado[editar]

Depoimento do pioneiro Elio Willy Fauth sobre o incêndio da Prefeitura de Cascavel, ao cair da tarde do dia 12 de dezembro de 1960:

– Temia que acontecesse um tiroteio de conseqüências imprevisíveis. Os ânimos estavam exaltados desde o dia 4 de outubro, quando já sabiam os resultados da eleição realizada na véspera, pois a oposição havia vencido e prometia uma enorme devassa nas contas da Prefeitura. Eis porque da afirmativa que puseram fogo, bem assim como o meu temor pelo tiroteio. Este último não veio, porém esteve próximo de acontecer.

– A Polícia Militar foi acionada com rapidez, pelo então major Aroldo (Cruz), que por sinal, fora o candidato a prefeito derrotado em 3 de outubro. Metralhadoras, fuzis e munições começaram a ser movimentados no velho casarão que servia de quartel, isto ao lado da casa onde então (eu) residia, e que ficava em frente à Churrascaria Tupã. Até mesmo sacos de areia foram colocados no portão de entrada do quartel para servir de trincheira ou barricada em caso de algum assalto.

Enquanto a polícia se preparava para lutar, os moradores mais exaltados, atribuindo a responsabilidade pelo incêndio ao prefeito Schwarz, marchavam em direção à sua residência com o firme propósito de linchá-lo. A situação de Schwarz se tornava extremamente difícil. Acabara de retornar à cidade naquele dia 12 de dezembro para completar os preparativos da transmissão de cargo ao prefeito eleito, Octacílio Mion.

A polícia havia armado sua defesa. Um grupo de jipes (os poucos automóveis da época) transportavam as pessoas iradas em direção à casa do prefeito, que já estava fora da cidade. Schwarz inicialmente ficou escondido na casa do sogro Florêncio Galafassi até conseguir fugir para Curitiba. Não houve prisões porque, além do incêndio, nenhuma outra violência foi cometida e os incendiários não foram identificados.

Foi a pior notícia da vida de Schwarz, que narra seu drama: – Deixei minha bagagem na casa do sogro Florêncio Galafassi e em seguida me dirigi à Prefeitura. No caminho, encontrei o Celso Sperança, meu secretário, que pediu para eu voltar, pois estava arrumando a papelada e mandaria o contínuo à casa do Galafassi para as assinaturas. Lá pelas cinco da tarde, o Celso me procurou para que arrumássemos um lampião, pois pretendia trabalhar à noite. Quando o Celso estava voltando, a Prefeitura estava em chamas.

Tanto quanto suspeitaram dele sem provas, Schwarz também tinha suposições quanto aos autores do incêndio, não citando nomes por não ter como comprovar as responsabilidades. Mas acredita que os envolvidos tinham interesse nas 22 quadras destinadas à construção de praças, então pertencentes ao Município, incluindo a quadra em que estava a Prefeitura queimada.

Mais tarde essas quadras foram adquiridas por pessoas ligadas ao Departamento de Geografia, Terras e Cartografia do Governo do Estado (depois, ITCF). Roberto Paiva recordou para o jornal Hoje (5 de agosto de 1.978): – Não tenho dúvidas de que o incêndio foi criminoso, mas o inquérito obviamente não deu em nada. Ainda naquela mesma noite a população fez uma passeata, querendo linchar o Helberto Schwarz. Ele se escondeu e a polícia, que era então chefiada pelo Aroldo Cruz, teve de protegê-lo, senão ele não escapava.

Schwarz foi inocentado[editar]

“O incêndio da Prefeitura Municipal, em 1960, representou antes de mais nada a perda de todo o acervo histórico do Município, porque lá estava catalogada toda a documentação desde a criação e instalação do Município, documentos da Câmara, etc, constituindo-se em um acervo irrecuperável”, lembrou o ex-vereador Algacyr Biazetto.

“Quando Mion assumiu a Prefeitura”, acrescentou Biazetto, “dirigindo provisoriamente os destinos de Cascavel instalado em um galpão, teve que começar tudo de novo, e uma pessoa que o ajudou muito nessa tarefa foi Celso Sperança, principalmente no setor burocrático-administrativo”. Celso Sperança, no final de 1976, também deu seu depoimento sobre o caso do incêndio. Já adoentado (faleceria em março de 1977), o filho Alceu perguntou-lhe se não seria o momento de contar tudo o que sabia sobre o incêndio de 1960.

– Eu não sabia de nada. Naquela tarde estava muito quente e eu deixei meu paletó sobre a mesa de trabalho, contendo no bolso meu pagamento do mês e algumas escrituras de lotes de minha propriedade localizados perto do atual cemitério. Tirei o paletó devido ao calor e porque pretendia fazer serão à noite, para preparar a entrega da Prefeitura ao Mion. Se eu soubesse que a Prefeitura iria queimar, jamais teria deixado dinheiro e escrituras lá dentro. Só tenho certeza de que, se o incêndio foi criminoso, o Helberto Schwarz nada teve a ver com isso. Todos os casos de que ele foi acusado eram de conhecimento público e não havia nada dentro da Prefeitura que todos já não tivessem conhecimento. Ele não iria queimar a Prefeitura, e, se mandasse, faria se estivesse longe da cidade e não tranqüilamente tomando chimarrão na casa do sogro, sabendo que seria o principal suspeito e poderia até ser linchado.

O último lance do episódio se deu em setembro de 1968, quando um novo incêndio aconteceu, desta vez destruindo o Fórum Desembargador José Munhoz de Mello. Foram destruídos, com o novo incêndio, os Autos de Ação Criminal em que figuravam como réus o prefeito, o secretário Eduardo Dellatorre e os vereadores Valdir Ernesto Farina e Nélson Cunha “denunciados como autores do incêndio da Prefeitura desta cidade de Cascavel”, segundo atestou Certidão da Vara Criminal e de Menores de Comarca, datada de 10 de março de 1970, assinada pelo escrivão do Crime, Ivan Possamai.

Não se comprovou a culpa de nenhum deles. O advogado Epiphânio Alves de Figueiredo, em depoimento ao jornal Hoje” (9 de janeiro de 1982), declarou: “O prefeito Schwarz era inocente. Se ele queimou a Prefeitura, eu também queimei, porque estava com ele em Curitiba”.

(Fonte: Alceu A. Sperança, jornal O Paraná, dezembro de 2005).