Férias de junho
De gentes simples e caboclos rudos,
Na minha terra existe uma florida
E plácida fazenda,
Onde eu, longe de livros e de estudos,
Esbanjo as férias sem pensar na vida,
Em junho, na moenda.
O terreiro é fechado a pau-a-pique,
Com porteiras de cedro em cada lado,
Que ringem roucamente;
Ficam num canto o engenho e o alambique,
Onde fazem açúcar e melado,
Garapa e aguardente.
Funda lagoa sob a ponte dorme,
Em que nadam uns patos de alvas plumas,
E bebem juritis;
E muito além se estende um campo enorme
Um campo de juás e de guaxumas,
Crivado de cupis.
O ribeirão que tomba dum penedo,
Faz tocar o volante da engrenagem
Que as canas remoinha;
E mal desponta o sol de manhã cedo,
Começa a faina imensa da moagem
Que acaba de tardinha.
Carros de bois, atravessando as roças,
Trazendo canas aos montões ceifadas,
Passam chiar-chiando;
E vêm do canavial as vozes grossas
Que entoam sem cessar os camaradas,
Entre ioçás foiçando!
Bem cedo, na fornalha, até ao sol posto,
Flameja uma possante labareda,
Crepitam largas achas;
E o engenho todo exala um cheiro a mosto
— Um forte cheiro de garapa azeda
Que vem das amplas tachas.
E quando, à tarde, por detrás do atalho,
O sol expira entre golfões sangrentos
De sangue que espadana,
— Cessa o rumor da faina e do trabalho:
E os ásperos caboclos poeirentos
Recolhem-se à choupana.
Tudo se aquieta... Frêmulas, se engastam
As estrelas na abóbada infinita.
Hora tristonha e suave.
Os bois ruminam. Os cavalos pastam
Pára a moenda, o fogo não crepita,
Reina um silêncio grave.
Somente o Zé Venãncio, na soleira
Da sua choça esburacada e antiga,
Magoado, se consola,
Trovando a ingratidão duma roceira,
Cantando uma tristíssima cantiga,
Ao som de sua viola...