Fabulas (9ª edição)/62

A Galinha dos Ovos de Ouro
João Impaciente descobriu no quintal uma galinha que punha ovos de ouro. Mas um por semana apenas. Louco de alegria, disse á mulher:
— Estamos ricos! Esta galinha traz um tesouro no ovario. Mato-a e fico o mandão aqui das redondezas.
— Por que mata-la, se conservando-a você obtem um ovo de ouro de sete em sete dias?
— Não fosse eu João Impaciente! Quer que me satisfaça com um ovo por semana quando posso conseguir a ninhada inteira num momento?
E matou a galinha.
Dentro dela só havia tripas, como nas galinhas comuns, e João Impaciente, logrado, continuou a marcar passo a vida inteira, morrendo sem vintem.
— Eu, se fosse o fabulista, disse Pedrinho, mudava o titulo dessa fabula. Punha O PALERMA. Só mesmo um palerma como esse João Impaciente podia fazer uma coisa assim.
Dona Benta não concordou.
— Ah, meu filho, isso de esperar não é facil. Quantas vezes você mesmo não perdeu uma coisa que muito desejava por excesso de impaciencia, por não ter tido a sabedoria de esperar...
— Ainda hontem, vóvó, ele quasi pegou uma saira das raras, ajuntou Narizinho. Mas não esperou que ela entrasse bem, bem, bem, na armadilha. Puxou o cordel antes do tempo. Pedrinho tambem é palerma ás vezes, por falta de paciencia. Eu, sim, sei esperar.
— E porisso mesmo não pegou aquela pulga que estava em sua cama, disse Emilia. Ficou esperando que a pulga parasse de pular e a pulga afinal sumiu.
A especialidade de Emilia era pegar pulgas.
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
