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Fabulas (9ª edição)/64

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O Leão e o Ratinho

Ao sair do buraco viu-se um ratinho entre as patas do leão. Estacou, de pêlos em pé, paralizado pelo terror. O leão, porém, não lhe fez mal nenhum.

— Segue em paz, ratinho; não tenhas medo de teu rei.

Dias depois o leão caiu numa rede. Urrou desesperadamente, debateu-se, mas quanto mais se agitava mais preso no laço ficava.

Atraído pelos urros, apareceu o ratinho.

— Amor com amor se paga, disse ele lá consigo e pôs-se a roer as cordas. Num instante conseguiu romper uma das malhas. E como a rede era das tais que rompida a primeira malha as outras se afrouxam, pôde o leão deslindar-se e fugir.

Mais vale paciencia pequenina do que arrancos de leão.

Isso é verdade, comentou Narizinho. Não ha o que a paciencia não consiga. Lá na cachoeira ha um buraco na pedra feito por um celebre pingo d’agua que cai, cai, cai ha seculos.

— E ha um ditado popular para esse pingo, ajuntou Pedrinho: Agua mole em pedra dura tanto dá até que fura.

Quem faz os ditados populares, vóvó?

— O povo, minha filha. Os homens vão observando certas coisas e por fim formam um ditado, ou rifão, ou proverbio, ou adagio, ou dito, no qual resumem o que observaram. Esse dito do pingo d’agua que tanto dá até que fura é muito bom — bonitinho e certo.

— Foi o meio de vencermos a Cuca naquela nossa aventura do Saci, lembrou Pedrinho. A Cuca não tinha medo de coisa nenhuma, porque era poderosa. Mas quando se viu imobilizada pelos cipós com que a amarramos e com aquele pingo d’agua a lhe pingar na testa, cedeu. Entregou o pito, como diz tia Nastacia.




Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.