Fabulas (9ª edição)/68
O Burro Sabio
No tempo em que os animais falavam, uma assembléia de bichos se reuniu para resolver certa questão.
Compareceu, sem ser convidado, o burro, e pedindo a palavra pronunciou longo discurso, fingindo-se estadista. Mas só disse asneiras. Foi um zurrar sem conta.
Quando concluiu, ficou á espera dos aplausos; mas o elefante, espichando a tromba para o seu lado, disse:
— Grande pedaço d’asno! Roubaste o tempo, a nós e a ti. A nós, porque o perdemos a ouvir asneiras; e a ti, porque muito mais lucrarias se o empregasses em pastar capim. Toma lá este conselho:
Um tolo nunca é mais tolo do que quando se mete a sabio.
— Está aí uma fabula inutil, disse Pedrinho. Diz a mesma coisa que a do Asno e do Burro.
— Sim, meu filho. E’ uma variante. Serve para mostrar que uma mesma verdade pode ser expressa de modos diferentes.
— Continuo a acha-la inutil, insistiu Pedrinho. Se veio para provar isso, perdeu o tempo, porque nada mais claro que todas as coisas podem ser ditas de muitas maneiras.
O visconde contestou.
— Isso tambem, não, Pedrinho. As verdades cientificas só podem ser ditas de uma maneira. Quando eu pergunto: “Quanto é um mais um?” a resposta só pode ser “Dois”.
— E o “Onze” onde fica, visconde? berrou Emilia. Um mais um tambem dá 11.
O sabuguinho cientifico atrapalhou-se.
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.