Fabulas de Narizinho/O macaco e o gato
Simão — o macaco, e Bichano — o gato, moram juntos sob o mesmo tecto. E pintam o sete na casa. Um furta “as coisas”, remexe gavetas, esconde tesourinhas, atormenta o papagaio; outro arranha os tapetes, esfiapa as almofadas e bebe o leite das crianças, às escondidas
Apesar de amigos e socios, o macaco sabe agir com tal maromba que é elle quem leva a melhor em todas as peraltagens.
Foi assim no caso das castanhas.
A cozinheira puzera a assar, sobre brazas; uma duzia de castanhas e sahira rumo da horta a colher temperos. Os dois malandros, vendo a cozinha vazia, approximaram-se de manso. com piscadelas de intelligencia. Disse o macaco:
— Amigo Bichano, tens uma pata geitosa, optima para tirar castanhas do fogo. Vamos! Toca a manejal-a!
O gato não se fez insistir e com arte sabia começa a tapear as castanhas, chamando-as para fóra das cinzas.
— Prompto, uma!...
— Agora aquella de lá... Isso! Agora aquella gorducha... Isso! E mais a da esquerda, que estalou...
O gato as tirava, mas quem as comia, gulosamente, piscando o olho, era o macaco...
De repente, eis que surge a cozinheira, furiosa, de vara na mão, ameaçadora:
— Espera ahi, diabada!...
Os dois gatunos esvaem-se, aos pinotes, até alcançar couto seguro no telhado.
O macaco diz então, esfregando as munhecas:
— Boa partida, hein?
Bichano suspira.
— Para ti, que comeste as castanhas. Para mim, pessima, pois arrisquei o pêlo, incidi na vingança da criada, que, mais dia menos dia me descadeira a pau, e estou em jejum, sem saber que gosto tem uma castanhasinha assada...
Simão, cavorteiramente, consolou-o:
— Não te amofines, porque a vida é assim mesmo. O bom bocado não é para quem o faz, e sim para quem o come...
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.