Fabulas de Narizinho/O sabiá na gaiola
Lamentava-se na gaiola um velho sabiá.
— Que triste destino o meu, nesta prisão, toda a vida... E que saudades dos bons tempos de outróra, quando minha vida era um continuo esvoaçar de galho em galho, em procura das laranjas mais bellas... Madrugador, quem primeiro saudava a luz da manhã era eu; como era eu o ultimo a despedir-me do sol á tardinha. Cantava e era feliz...
Um dia, traiçoeiro visgo me ligou os pés. Esvoacei, debati-me em vão, e vim acabar nesta gaiola horrivel, onde saudoso chóro o tempo da liberdade. Que triste destino o meu! Haverá no mundo maior desgraça?
Nisto abre-se a porta e entra o caçador, de espingarda ao hombro e uma fieira de passarinhos na mão.
Ante o espectaculo das miseras avesinhas estraçalhadas a tiro, gottejantes de sangue, algumas ainda em agonia, o sabiá estremeceu.
E horripilando verificou que não era dos mais infelizes, pois vivia e inda não perdera a esperança de recobrar a liberdade de outróra.
Reflectiu sobre o caso e murmurou, lá comsigo:
— Antes penar que morrer!
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.