Foi garrote, foi capado
Foi garrote, foi capado
No curral da Piedade;
Nunca temeu a vaqueiro,
Nem a vara de ferrão,
Nem o mesmo José de Castro
No cavalo Riachão.
Do chifre do Boi-Espácio
Dele fez-se uma canoa,
Para embarcar a gente
Do Recife pra Lisboa.
Dos olhos do Boi-Espácio
Deles fez-se uma vidraça
Para espiar as moças
Quando passeiam na praça
Da cabeça do Boi-Espácio
Dela se fez um banqueiro
Para retalhar a carne
Da gente do Saboeiro.
O couro do Boi-Espácio,
Tirado por minha mão,
Deu trinta jogos de malas,
Nove pares de surrão.
A rabada do Boi-Espácio,
Tirada por minha mão,
Deu trinta laços de corda,
Nove pares de surrão.
A carne do Boi-Espácio
Botada no estaleiro,
Comeram vinte famílias
De janeiro a janeiro.
O corredor do Boi-Espácio
Deu tamanha corredeira,
Que todo o povo do Crato
Ficou-se de caganeira.
As tripas do Boi-Espácio
Tiradas por minha mão,
Deu dez cargas de linguiça,
Onze arrobas de sabão.
Do debulho do Boi-Espácio
Dele se fez barrela,
Para se lavar a roupa
Da gente da Manoela.
Da unha do Boi-Espácio
Quatro obras se formou,
Uma jangada, uma lancha,
Um palácio e um vapor.
Das orelhas do Boi-Espácio
Quatro obras se formou,
Um abano, uma esteira,
Uma maca, um tambor.
Este meu Boi-Espácio
Morava em dois sertãos,
Comia nos Cipoais,
Bebia nos Caldeirãos.
Matei o meu Boi-Espácio
Em uma tarde serena,
Toda a gente da ribeira,
Que não chorou, teve pena.