Ha uma Gota de Sangue em Cada Poema/Lovaina
Louvaina
Abriam-se inda no ar alguns obuses,
como flocos de paina;
e, ao barulhar bramante do barulho,
tetos tombavam, e brotavam luzes;
onde fôra Lovaina...
— Mas no meio do entulho,
nas avenidas e nas alamedas
tresloucadas, sem rumo,
onde ladrava, sob o fumo,
a cainçalha das labaredas;
mas pêlas vastas praças atupidas
de destroços heris de monumentos;
nas ruas de comércio, onde mil vidas
jaziam, envolvidas
na mortalha dos desmoronamentos;
mas nos palácios, nas mansardas,
nos esqueletos das habitações,
nas escolas estraçalhadas,
nos átrios, nos terraços, nas escadas,
no torvelim dos mortos e das fardas,
na boca muda dos canhões,
naquele hediondo incêndio triunfal:
não calculei ao desastroso mal
toda a incomensurável extensão!
Não vi o exício duma grei humana,
o destino infeliz duma raça espartana,
o fim terrível duma geração!
Se houve crime nefando,
não lhe medi a imensidade:
só, dentre as ruínas da universidade,
eu vi os grandes livros fumegando!