Hamlet: drama em cinco actos/Acto quarto/Cena VI
Quem é que me pretende fallar?
Marinheiros... e dizem que têem cartas que lhe são dirigidas.
Que entrem pois; (o creado sáe) (só) não percebo de que canto do mundo se lembraram de me escrever. Só se for Hamlet.
Guarde-o Deus, senhor!
Igualmente a ti!
Fal-o-ha, se for da sua vontade. (Entrega uma carta) Aqui tem esta carta, é do embaixador que foi mandado a Inglaterra; o senhor, segundo me asseguraram, chama-se Horacio, não é verdade? (Dá-lhe outra carta.)
«Horacio, quando receberes esta carta, proporciona a estes homens o fallarem ao rei; têem cartas para lhe entregar. Mal tinhamos dois dias de viagem, um corsario armado até aos dentes deu-nos caça; vendo nós que elle era mais veleiro, fizemos das fraquezas forças, e encetámos combate. Na abordagem, saltei-lhe na tolda, mas n'aquelle momento afastaram-se os dois navios, e eu achei-me só e prisioneiro. Comportaram-se commigo como corsarios humanos, mas sabiam o que faziam, porque contam pedir avultado resgate. Faze chegar ás mãos do rei a carta que lhe envio, depois vem ter commigo, com a celeridade que porias em evitar a morte. Tenho que confiar aos teus ouvidos palavras que te emudecerão de espanto, e comtudo ainda são fracas para a gravidade do assumpto que devem exprimir. Estes marinheiros te conduzirão ao sitio onde me acho. Rosencrantz e Guildenstern navegam para a Inglaterra. Tenho muito que te contar a esse respeito. Adeus. Aquelle que sabes ser teu do coração = Hamlet.» Venham, vou facilitar-lhes a entrega das cartas, depois conduzam-me o mais prompto que podérem junto d'aquelle que lh'as entregou. (Sáem todos.)