Hymno á Dor
Aos Condes de Sabugosa
Sorri com mais doçura a boca de quem soffre,
Embora amargue o fel que os seus lábios beberam;
É mais ardente o olhar, onde como um aljofre,
A Dor se condensou e as lágrimas correram.
Sôa, como se um beijo ou uma caricia fôsse,
A voz que a soluçar na Desgraça aprendeu;
E não ha para nós consolação mais doce,
Que o regaço de quem muito amou e soffreu.
Voz, que jamais vibrou num soluço de mágua,
Ao nosso coração nunca pode chegar...
Mas o pranto, ao caír d'uns olhos razos d'agua,
Torna mais penetrante e mais profundo o olhar.
Lábio, que só bebeu na fonte da Alegria,
É frio, como o olhar de quem nunca chorou;
A Bondade é uma flor que se alimenta e cria
Dos resíduos que a Dor no coração deixou.
Em tudo quanto existe o Soffrimento imprime
Uma augusta expressão... mesmo a Suprema Graça,
Dando aos versos do Poeta esse esmalte sublime
Que torna immorredoira a Inspiração que passa.
É por isso que a Dor, sem trégua nem guarida,
Dor sem resignação, Dor de estoico ou de santo,
Só de a vermos passar no tumulto da Vida
Deixa os olhos da gente ennublados de pranto.