Imunidade

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Foi Praxedes Cristiano
À Capital Federal:
Levou a mulher, o mano
E a filha. E, ao cabo de um ano,
Regressa ao torrão natal.

Regressa... Vão esperá-lo,
Com festas e rapapés,
Os amigos, à cavalo;
Queimam-se as bichas de estalo,
Foguetes e busca-pés.

Praxedes, guapo e pachola,
Vem transformado e feliz:
Traz polainas e cartola,
E guarda-chuva de mola,
E botinas de verniz.

E a mulher, gorda matrona,
É aquilo que se vê:
— Vem que parece uma dona,
— Vestido cor de azeitona,
Saído do Raunier...

Depois do almoço, se ajunta
Toda a gente principal:
E, depois de toda junta.
— O que há de novo, pergunta,
Na Capital Federal.

Praxedes impa de orgulho,
E principia a falar:
"Ah! que vida! que barulho!
No Rio, este mês de julho
É mesmo um mês de gozar!"

Praxedes fala de tudo,
Sem cousa alguma esquecer;
Todo o auditório peludo
Fica tonto, fica mudo,
E de tudo quer saber.

Nisto, o velho boticário,
Sujeito de distinção,
Que idolatra o Formulário
E é a glória do campanário.
Põe em campo esta questão:

"Já que tanta cousa viste,
Praxedes, dize-me cá:
Dizem, não sei se por chiste
Ou por maldade, que existe
Muita sífilis por lá..."

"É pura intriga, seu Ramos!
(Diz o Praxedes) que quer?
Um ano por lá passamos...
E nada disso apanhamos,
Nem eu, nem minha mulher!"