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Inda que vivo na aldea

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Inda que vivo na aldea,
& nunca entrei na cidade,
Não me aveis de negar naõ,
Que ha Deos neſſa humanidade,
Ou lá outra vez ou là,
& que dizem cà,
& que affirmão lá,
& que querem crer,
& que hade ſer,
& que vejo aqui,
Que ſe canta ali,
& eſpantado eſtá
Quẽ quizer conhecer o minino
Se he Deos, & homẽ, q̇ lhe fará,
Olhalo deſpido nas palhas
Com rayos, & luzes o achará.

Coplas. I.

Para Deos vos conhecer
Eſte disfarce me enſina,
Porque aſſi melhor ſe atina,
Em vós, o que podeis ſer
Deixai de vos eſconder,
Que ſer Deos bem claro eſtà;
Oula, &c.

          2.

Os rebuços da probreza,
A vozes dizendo eſtão,
Que o poder tendes na maõ
Senhor, da mayor grandeza,
Jà ſe ſabe, que he fineza,
De amor que pique vos dá.
Oula, &c.

          3.

Se vindes matar de amores
Matainos a toda a luz,
Porque os olhos que vos puz
Cégos gozão mais favores,
Campeem os reſplandores,
Pois a luz vida nos dà.
Oula, &c.

          4.

Porque chorais ſe ſois riſo
Minino por me obrigar,
Naõ vos quero ver chorar,
Que ſois homem, & tendes ciſo,
Gloria ſois do paraiſo
Mal a gloria chorarà.
Oula, &c.