Inverno (Cruz e Sousa)

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Amanheceu — no topo da colina
Um céu de madrepérola se arqueia
Limpo, lavado, reluzindo — ondeia
O perfume da selva esmeraldina.

Uma luz virginal e cristalina,
Como de um rio a transbordante cheia,
Alaga as terras culturais e arreia
De pingos d'ouro os verdes da campina.

Um sol pagão, de um louro gema d'ovo,
Já tão antigo e quase sempre novo
Surge na frígida estação do inverno.

— Chilreiam muito em árvores frondosas
Pássaros — fulge o orvalho pelas rosas
Como o vigor no espírito moderno.