João Ferreira de Almeida 1819 (ortografia atualizada)/João/VII

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  1. E DEPOIS disto andava Jesus em Galileia; que já não queria andar em Judeia, porquanto os Judeus procuravam matá-lo.
  2. E estava já perto a Festa das Cabanas dos Judeus.
  3. Disseram-lhe pois seus irmãos: Passa-te daqui, e vai-te a Judeia, para que também teus Discípulos vejam as obras que fazes.
  4. Que ninguém que procura ser nomeado, faz alguma coisa em oculto. Se fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo.
  5. Porque nem ainda seus irmãos criam nele.
  6. Disse-lhes pois Jesus: Meu tempo ainda não é chegado; mas vosso tempo sempre está prestes.
  7. Não vos pode o mundo aborrecer a vós outros, mas a mim me aborrece, porquanto dele testifico que suas obras são más.
  8. Vós outros subi a esta Festa; eu não subo ainda a esta Festa, porque ainda meu tempo não é cumprido.
  9. E havendo-lhes dito isto, ficou-se em Galileia.
  10. Mas havendo seus irmãos já subido, então subiu ele também à Festa, não manifestamente, mas como em oculto.
  11. Buscavam-no pois os Judeus na Festa, e diziam: Aonde ele está?
  12. E havia grande murmuração dele nas companhias. Alguns diziam: Bom é; e outros diziam; Não, antes engana a companhia.
  13. Todavia ninguém falava dele abertamente, com medo dos Judeus.
  14. Porém no meio da Festa subiu Jesus ao Templo, e ensinava.
  15. E maravilhavam-se os Judeus, dizendo: Como sabe este as Escrituras, não as havendo aprendido?
  16. Respondeu-lhes Jesus, e disse: Minha doutrina não é minha, senão daquele que me enviou.
  17. Se alguém quiser fazer sua vontade, da mesma doutrina conhecerá, se é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo.
  18. Quem fala de si mesmo busca sua própria honra; mas quem busca a honra daquele que o enviou, esse é verdadeiro, e não há nele injustiça.
  19. Não vos deu Moisés a Lei, e ninguém de vós outros faz a Lei? por que me procurais matar?
  20. Respondeu a companhia, e disse: O Demônio tens; quem te procura matar?
  21. Respondeu Jesus, e disse-lhes: Uma obra fiz, e todos vos maravilhais.
  22. Por isso Moisés vos deu a circuncisão (não porque seja de Moisés, mas dois pais) e em Sábado circuncidais ao homem.
  23. Se homem recebe a circuncisão em Sábado, para que a Lei de Moisés não seja quebrantada, indignai-vos comigo, porque em Sábado curei a todo um homem?
  24. Não julgueis segundo a aparência, mas julgai juízo justo.
  25. Diziam pois alguns dos de Jerusalém: Não é este ao que procuram matar?
  26. E eis aqui fala livremente, e nada lhe dizem; porventura sabem verdadeiramente os Príncipes que este é o Cristo?
  27. Mas este bem sabemos de onde é: Porém quando vier o Cristo, ninguém saberá de onde é.
  28. Clamava pois Jesus no Templo, ensinando, e dizendo: E a mim me conheceis, e sabeis de onde sou; e eu não vim de mim mesmo; mas aquele que me enviou é verdadeiro, ao qual vós outros não conheceis.
  29. Porém eu o conheço, porque dele sou, e ele me enviou.
  30. Procuravam pois prendê-lo, mas ninguém lançou mão dele, porque ainda sua hora não era vinda.
  31. E muitos da companhia creram nele, e diziam: Quando o Cristo vier, fará ainda mais sinais, do que os que este tem feito?
  32. Ouviram os Fariseus que a companhia murmurava dele estas coisas; e os Fariseus e os Príncipes dos Sacerdotes mandaram servidores a prendê-lo.
  33. Disse-lhes pois Jesus: Ainda um pouco de tempo estou convosco, e então me irei a aquele que me enviou.
  34. Buscar-me-eis, e não me achareis; e aonde eu estou vós outros não podeis vir.
  35. Disseram pois os Judeus uns para os outros: Aonde se irá este, que não o acharemos? Porventura, ir-se-á aos espargidos entre os Gregos, e a ensinar os Gregos?
  36. Que dito é este que disse: Buscar-me-eis, e não me achareis; e aonde eu estou vós outros não podeis vir?
  37. E no último e grande dia da Festa se pôs Jesus em pé, e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim, e beba.
  38. Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva manarão de seu ventre.
  39. (E isto disse ele do Espírito que haviam de receber aqueles que nele cressem. Porque ainda o Espírito Santo não era vindo, porquanto ainda Jesus não era glorificado).
  40. Assim que muitos da companhia, ouvindo este dito, diziam: Verdadeiramente este é o Profeta.
  41. Outros diziam: Este é o Cristo; e outros diziam: virá pois de Galileia o Cristo?
  42. Não diz a Escritura que o Cristo há de vir da semente de Davi, e da aldeia de Belém, de onde era Davi?
  43. Assim que havia dissensão na companhia por amor dele.
  44. E alguns deles o queriam prender, mas ninguém lançou mão dele.
  45. Vieram pois os servidores dos Pontífices e Fariseus; e eles lhes disseram: Por que o não trouxestes?
  46. Responderam os servidores: Nunca homem nenhum assim falou como este homem.
  47. Responderam-lhes pois os Fariseus: Estais vós outros também enganados?
  48. Porventura creu nele algum dos Príncipes, ou dos Fariseus?
  49. Senão esta companhia, que não sabe a Lei, maldita é.
  50. Disse-lhes Nicodemos, o que viera a ele de noite, que era um deles.
  51. Porventura julga nossa Lei ao homem sem primeiro o ouvir, e entender o que faz?
  52. Responderam eles, e disseram: És tu também de Galileia? esquadrinha, e vê que nenhum Profeta se levantou de Galileia.
  53. E foi-se cada um para sua casa.