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João Ferreira de Almeida 1819 (ortografia atualizada)/João/VI

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  1. Depois disto partiu-se Jesus da outra banda do mar de Galileia, que é o de Tibérias.
  2. E seguia-o grande companhia; porque viam os sinais que fazia nos enfermos.
  3. E subiu Jesus ao monte, e assentou-se ali com seus Discípulos.
  4. E já a Páscoa, a Festa dos Judeus, estava perto.
  5. Levantando pois Jesus os olhos, e vendo que uma grande companhia vinha a ele, disse a Filipe: Donde comparemos pães, para que estes comam?
  6. (Mas isto dizia, atentando-o; porque bem sabia ele o que havia de fazer.)
  7. Respondeu-lhe Filipe, Duzentos dinheiros de pão lhes não bastarão, para que cada um deles tome um pouco.
  8. Disse-lhe um de seus Discípulos, a saber, André, o irmão de Simão Pedro:
  9. Um menino está aqui que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas que é isto entre tantos?
  10. E disse Jesus: Fazei assentar os homens; e havia muita erva naquele lugar. Assentaram-se pois os homens, como número de cinco mil.
  11. E tomou Jesus os pães, e havendo dado graças, repartiu-os aos Discípulos, e os Discípulos aos que estavam assentados, semelhantemente também dos peixes, quanto queriam.
  12. E como já estiveram fartos, disse a seus Discípulos: recolhei os pedaços que sobejaram, para que nada se perca.
  13. Recolheram-nos pois, e encheram doze cestos de pedaços dos cinco pães de cevada, que sobejaram aos que comeram.
  14. Vendo pois aqueles homens o sinal que Jesus fizera, disseram: Este é verdadeiramente o Profeta que havia de vir ao mundo.
  15. Sabendo pois Jesus que haviam de vir, e arrebatá-lo, para o fazer rei, tornou-se ele só a retirar ao monte.
  16. E como já se fez tarde, desceram seus Discípulos ao mar.
  17. E entrando no barco, vieram da outra banda do mar a Carfanaum. E era já escuro, e ainda Jesus não tinha vindo a eles.
  18. E o mar se levantou, porquanto um grande vento soprava.
  19. E havendo já navegado quase vinte e cinco, ou trinta estádios, viram a Jesus vir andando sobre o mar, e chegando-se ao barco; e temeram.
  20. Mas ele lhes disse: Eu sou, não temais.
  21. Eles pois o receberam de boa mente no barco; e logo o barco chegou à terra aonde iam.
  22. O dia seguinte vendo a companhia, que estava da outra banda do mar, que não havia ali mais que um barquinho, em que seus Discípulos entraram; e que Jesus não entrara com seus Discípulos naquele barquinho, mas que seus Discípulos sós se haviam ido;
  23. Porém que outros barquinhos vieram de Tibérias, perto do lugar aonde comeram o pão, havendo o Senhor dado graças.)
  24. Vendo pois a companhia que Jesus não estava ali, nem seus Discípulos, entraram eles também nos barcos, e vieram a Carfanaum em busca de Jesus.
  25. E achando-o da outra banda do mar, disseram: Rabi, quando cá chegaste?
  26. Respondeu-lhes Jesus, e disse: Em verdade, em verdade vos digo, que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas pelo pão que comestes, e vos fartastes.
  27. Obrai não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; porque a este selou Deus Pai.
  28. Disseram-lhe pois: Que faremos, para obrarmos as obras de Deus?
  29. Respondeu Jesus, e disse-lhes: Esta é a obra de Deus, que creiais naquele que ele enviou.
  30. Disseram-lhe pois: Que sinal pois fazes tu para que o vejamos, e te creiamos? que obras?
  31. Nossos pais comeram o Maná no deserto, como está escrito: Pão do céu lhes deu a comer.
  32. Disse-lhes pois Jesus: Em verdade, em verdade vos digo, que não vos deu Moisés o pão do céu; mas meu Pai vos dá o verdadeiro pão do céu.
  33. Porque o pão de Deus é aquele, que do céu desce, e dá vida ao mundo.
  34. Disseram-lhe pois: Senhor, dá-nos sempre deste pão.
  35. E Jesus lhes disse: Eu sou o pão da vida; quem vem a mim, em maneira nenhuma terá fome; e quem crê em mim, nunca terá sede.
  36. Mas já vos tenho dito, que também me vistes, e não credes.
  37. Tudo o que o Pai me dá virá a mim; e ao que vem a mim, em maneira nenhuma o lançarei fora.
  38. Porque eu desci do céu, não para fazer minha vontade, senão a vontade daquele que me enviou.
  39. E esta é a vontade do Pai, que me enviou, que de tudo quanto me deu, nada perca, mas que o ressuscite no último dia.
  40. E esta é a vontade daquele que me enviou, que todo aquele que vê ao Filho, e nele crê, tenha a vida eterna; e e eu o ressuscitarei no último dia.
  41. Murmuravam pois dele os Judeus, porque dissera: Eu sou o pão que desceu do céu.
  42. E diziam: Não é este Jesus, o filho de José, cujos pai e mãe nós outros conhecemos? como pois diz este: Do céu descido tenho?
  43. Respondeu pois Jesus, e disse-lhes: Não murmureis entre vós outros.
  44. Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não puxar; e eu o ressuscitarei no último dia.
  45. Escrito está nos Profetas: E serão todos ensinados de Deus. Assim que, todo aquele que do Pai o ouviu, e aprendeu, esse vem a mim.
  46. Não que alguém visse ao Pai, senão aquele que é de Deus; este tem visto ao Pai.
  47. Em verdade, em verdade vos digo, que aquele que crê em mim tem vida eterna.
  48. Eu sou o pão da vida.
  49. Vossos pais comeram o Maná no deserto, e morreram.
  50. Este é o pão que desceu do céu, para que o homem dele coma, e não morra.
  51. Eu sou o pão vivo, que desceu do céu; se alguém comer deste pão, para sempre há de viver. E o pão que eu hei de dar, é minha carne, a qual hei de dar pela vida do mundo.
  52. Contendiam pois os Judeus entre si, dizendo: Como este nos pode dar sua carne a comer?
  53. Jesus pois lhes disse: Em verdade, em verdade vos digo, que se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes seu sangue, não tereis vida em vós mesmos.
  54. Quem come minha carne, e bebe meu sangue, tem vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.
  55. Porque minha carne verdadeiramente é comida; e meu sangue verdadeiramente é bebida.
  56. Quem come minha carne, e bebe meu sangue, em mim permanece, e eu nele.
  57. Como o Pai vivente me enviou, e eu vivo pelo Pai; assim quem a mim me come, também por mim há de viver.
  58. Este é o pão, que desceu do céu. Não como vossos pais, que comeram o Maná, e morreram; quem comer este pão, para sempre há de viver.
  59. Estas coisas disse ele na Sinagoga, ensinando em Carfanaum.
  60. Muitos pois de seus Discípulos, ouvindo isto, disseram: Dura é esta palavra; quem a pode ouvir?
  61. Sabendo pois Jesus em si mesmo, que seus Discípulos murmuravam disto, disse-lhes: Isto vos escandaliza?
  62. Que seria pois, se vísseis ao Filho do homem subir aonde estava primeiro?
  63. O Espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos digo espírito e vida são.
  64. Mas alugns de vós outros há que não creem. Porque bem sabia Jesus já desde o princípio, quem eram os que não criam, e quem era o que o havia de entregar.
  65. E dizia: Por isso vos tenho dito, que ninguém pode vir a mim, se lhe não for dado de meu Pai.
  66. Desde então se tornaram muitos de seus Discípulos atrás, e já não andavam com ele.
  67. Assim que disse Jesus aos doze: Porventura quereis vós outros também ir?
  68. Respondeu-lhe pois Simão Pedro: Senhor, a quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna.
  69. E já nós outros cremos, e conhecemos que tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente.
  70. Jesus lhes respondeu: Não eu vos escolhi doze; e um de vós outros é Diabo?
  71. E isto dizia ele de Judas de Simão Iscariotes; porque ele o havia de entregar, o qual era um dos doze.