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João Ferreira de Almeida 1819 (ortografia atualizada)/Atos/VII

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A lapidação de Estêvão, segundo Doré.

1E DISSE o sumo sacerdote: Porventura, é isto assim?

2E ele disse: Varões irmãos, e pais, ouvi. O Deus da glória apareceu a Abraão, nosso pai, estando na Mesopotâmia, antes de habitar em Harã,

3E disse-lhe: Sai da tua terra e dentre a tua parentela, e dirige-te à terra que eu te mostrar.

4Então, saiu da terra dos caldeus e habitou em Harã. E dali, depois que seu pai faleceu, Deus o trouxe para esta terra em que habitais agora.

5E não lhe deu nela herança, nem ainda o espaço de um pé; mas prometeu que lhe daria a posse dela e, depois dele, à sua descendência, não tendo ele filho.

6E falou Deus assim: Que a sua descendência seria peregrina em terra alheia, e a sujeitariam à escravidão e a maltratariam por quatrocentos anos.

7E eu julgarei a nação que os tiver escravizado, disse Deus. E, depois disto, sairão e me servirão neste lugar.

8E deu-lhe o pacto da circuncisão; e assim gerou a Isaque, e o circuncidou ao oitavo dia; e Isaque, a Jacó; e Jacó, aos doze patriarcas.

9E os patriarcas, movidos de inveja, venderam a José para o Egito; mas Deus era com ele.

10E livrou-o de todas as suas tribulações, e lhe deu graça e sabedoria ante o Faraó, rei do Egito, que o constituiu governador sobre o Egito e toda a sua casa.

11Sobreveio então a todo o país do Egito e de Canaã fome e grande tribulação; e nossos pais não achavam alimentos.

12Mas tendo ouvido Jacó que no Egito havia trigo, enviou ali nossos pais, a primeira vez.

13E na segunda vez foi José conhecido por seus irmãos, e a sua linhagem foi manifesta ao Faraó.

14E José mandou chamar a seu pai Jacó e a toda sua parentela, que era de setenta e cinco almas.

15E Jacó desceu ao Egito e morreu, ele e nossos pais;

16E foram transportados para Siquém, e depositados na sepultura que Abraão comprara por certa soma de dinheiro aos filhos de Hemor, pai de Siquém.

17Aproximando-se, porém, o tempo da promessa que Deus tinha feito a Abraão, o povo cresceu e se multiplicou no Egito;

18Até que se levantou outro rei, que não conhecia a José.

19Esse, usando de astúcia contra a nossa linhagem, maltratou nossos pais, ao ponto de os fazer enjeitar as suas crianças, para que não se multiplicassem.

20Nesse tempo nasceu Moisés, e era mui formoso, e foi criado três meses em casa de seu pai.

21E sendo enjeitado, tomou-o a filha do Faraó e o criou como seu filho.

22E Moisés foi instruído em toda a ciência dos egípcios; e era poderoso em suas palavras e obras.

23E, quando completou a idade de quarenta anos, veio-lhe ao coração ir visitar seus irmãos, os filhos d'Israel.

24E, vendo maltratado um deles, o defendeu; e vingou o ofendido, matando o egípcio.

25E ele cuidava que seus irmãos entenderiam que Deus lhes havia de dar a liberdade pela sua mão; mas eles não entenderam.

26E no dia seguinte, pelejando eles, foi por eles visto e quis levá-los à paz, dizendo: Varões, sois irmãos; por que vos agravais um ao outro?

27E o que ofendia o seu próximo o repeliu, dizendo: Quem te constituiu príncipe e juiz sobre nós?

28Queres tu matar-me, como ontem mataste o egípcio?

29E a esta palavra fugiu Moisés, e esteve como estrangeiro na terra de Midiã, onde gerou dois filhos.

30E, completados quarenta anos, apareceu-lhe o anjo do Senhor, no deserto do monte Sinai, numa chama de fogo de um sarçal.

31Então Moisés, quando viu isto, se maravilhou da visão; e, aproximando-se para observar, foi-lhe dirigida a voz do Senhor,

32Dizendo: Eu sou o Deus de teus pais, o Deus d'Abraão, e o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó. E Moisés, todo trêmulo, não ousava olhar.

33E disse-lhe o Senhor: Tira as alparcas dos teus pés, porque o lugar em que estás é terra santa.

34Tenho visto atentamente a aflição do meu povo que está no Egito, e ouvi os seus gemidos, e desci a livrá-los. Agora, pois, vem, e enviar-te-ei ao Egito.

35A este Moisés, ao qual haviam negado, dizendo: Quem te constituiu príncipe e juiz? A este enviou Deus como príncipe e libertador, pela mão do anjo que lhe aparecera no sarçal.

36Foi este que os conduziu para fora, fazendo prodígios e sinais na terra do Egito, no Mar Vermelho e no deserto, por quarenta anos.

37Este é aquele Moisés que disse aos filhos d'Israel: O Senhor, vosso Deus, vos levantará dentre vossos irmãos um profeta como eu; a ele ouvireis.

38Este é o que esteve entre a congregação no deserto, com o anjo que lhe falava no monte Sinai, e com nossos pais, o qual recebeu as palavras de vida para no-las dar.

39Ao qual nossos pais não quiseram obedecer, antes o rejeitaram, e em seu coração se tornaram ao Egito,

40Dizendo a Aarão: Faze-nos deuses que vão adiante de nós; porque a esse Moisés, que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu.

41E naqueles dias fizeram o bezerro, e ofereceram sacrifícios ao ídolo, e se alegraram nas obras das suas mãos.

42Mas Deus se afastou, e os abandonou a que servissem ao exército do céu, como está escrito no livro dos profetas: Porventura, me oferecestes vítimas e sacrifícios no deserto por quarenta anos, ó casa d'Israel?

43Antes tomastes o tabernáculo de Moloque, e a estrela do vosso deus Renfã, figuras que vós fizestes para as adorar. Transportar-vos-ei pois para além da Babilônia.

44Estava entre nossos pais no deserto o tabernáculo do testemunho, como ordenara aquele que disse a Moisés que o fizesse segundo o modelo que tinha visto,

45O qual nossos pais, recebendo-o também o levaram com Josué quando entraram na posse das nações que Deus lançou para fora da presença de nossos pais, até aos dias de Davi,

46Que achou graça diante de Deus, e pediu que pudesse achar tabernáculo para o Deus de Jacó.

47E Salomão lhe edificou casa;

48Mas o Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens, como diz o profeta:

49O céu é o meu trono, e a terra o estrado dos meus pés. Que casa me edificareis? Diz o Senhor: ou qual é o lugar do meu repouso?

50Porventura não fez a minha mão todas estas coisas?

51Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido: vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim, vós sois como vossos pais.

52A qual dos profetas não perseguiram vossos pais? Até mataram os que anteriormente anunciaram a vinda do Justo, do qual vós agora fostes traidores e homicidas;

53Vós, que recebestes a lei por ordenação dos anjos, e não a guardastes.

54E ouvindo eles isto, enfureciam-se em seus corações, e rangiam os dentes contra ele.

55Mas ele, estando cheio do Espírito Santo, fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus, e Jesus, que estava à direita de Deus;

56E disse: Eis que vejo os céus abertos, e o Filho do Homem, que está em pé à mão direita de Deus.

57Mas eles gritaram com grande voz, taparam os seus ouvidos, e arremeteram unânimes contra ele.

58E, expulsando-o da cidade, o apedrejavam. E as testemunhas depuseram os seus vestidos aos pés de um mancebo chamado Saulo.

59E apedrejaram a Estêvão, que em invocação dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito.

60E, pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor, não lhes imputes este pecado. E, tendo dito isto, adormeceu.

Notas

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