João Ferreira de Almeida 1819 (ortografia atualizada)/João/XVIII

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  1. HAVENDO Jesus dito estas coisas, saiu-se com seus Discípulos dalém do ribeiro de Cedron, aonde estava uma horta, em que entrou ele e seus Discípulos.
  2. E também Judas, o que o traía, sabia aquele lugar; para quanto muitas vezes se ajuntara ali Jesus com seus Discípulos.
  3. Judas pois tomando o esquadrão se soldados, e alguns dos ministros dos Pontífices e dos Fariseus, veio ali com lanternas, e fachas, e armas.
  4. Sabendo pois Jesus todas as coisas que sobre ele haviam de vir, se adiantou, e lhes disse: a quem buscais?
  5. Responderam-lhe: a Jesus Nazareno. Disse-lhes Jesus: Eu sou. E Judas, o que o traía, também com eles estava.
  6. Como pois lhes disse: Eu sou, tornaram para trás, e caíram em terra.
  7. Tornou-lhes pois a perguntar: a quem buscais? e eles disseram: a Jesus Nazareno.
  8. Respondeu Jesus: Já vos tenho dito que eu sou. Portanto se a mim me buscais, a estes deixai ir.
  9. Para que se cumprisse a palavra, que tinha dito: dos que me deste, a nenhum deles perdi.
  10. Simão Pedro, pois que tinha espada, puxou dela, e feriu ao servo do Pontífice, e cortou-lhe a orelha direita. E era o nome do servo Malco.
  11. Disse pois Jesus a Pedro: mete tua espada na bainha; não beberei eu o copo que o Pai me tem dado?
  12. O esquadrão pois, e o Tribuno, e os servidores dos Judeus juntamente tomaram a Jesus, e o amarraram.
  13. E o levaram primeiramente a Anás, porque era sogro de Caifás, o qual era Pontífice daquele ano.
  14. E era Caifás o que aconselhara aos Judeus, que convinha que um homem morresse pelo povo.
  15. E seguia a Jesus Simão Pedro, e outro Discípulo. E era este Discípulo conhecido do Pontífice, e entrou com Jesus na sala do Pontífice.
  16. E Pedro estava fora à porta. Saiu pois o outro Discípulo, que era conhecido do Pontífice, e falou à porteira, e meteu dentro a Pedro.
  17. Disse pois a criada porteira a Pedro: não és tu também dos Discípulos deste homem? disse ele: não sou.
  18. E estavam ali os servos, e os ministros, que haviam feito brasas, porquanto fazia frio, e aquentavam-se. Estavam também com eles Pedro, e aquentava-se.
  19. Perguntou pois o Pontífice a Jesus acerca de seus Discípulos, e de sua doutrina.
  20. Jesus lhe respondeu: Eu abertamente falei ao mundo; eu sempre ensinei na Sinagoga e no Templo, aonde os Judeus de todos os lugares se ajuntam, e nada falei em oculto.
  21. Que me perguntas a mim? Pergunta aos que o ouviram, que é o que lhes tenha falado? vês aqui estes sabem que é o que tenho dito.
  22. E dizendo ele isto, um dos ministros, que ali estava, deu a Jesus uma bofetada, dizendo: assim respondes ao Sumo Pontífice?
  23. Respondeu-lhe Jesus: Se falei mal, dá testemunho do mal; e se bem, por que me feres?
  24. (Assim pois amarrado o mandara Anás ao sumo Pontífice Caifás.)
  25. E estava Simão Pedro ali, e aquentava-se; disseram-lhe pois: não és tu também de seus Discípulos? negou ele, e disse: não sou.
  26. Disse um dos servos do Pontífice, parente daquele a quem Pedro cortara a orelha: não te vi eu na horta com ele?
  27. Negou pois Pedro outra vez, e logo cantou o galo.
  28. Levaram pois a Jesus de Caifás à Audiência. E era pela manhã; e não entraram na Audiência, por não se contaminarem, mas que pudessem comer a Páscoa.
  29. Saiu pois Pilatos a eles fora, e disse: que acusação trazeis contra este homem?
  30. Responderam, e disseram-lhe: Se este não fora malfeitor, não to entregaríamos.
  31. Disse-lhes pois Pilatos: Tomai-o vós outros, e o julgai segundo vossa lei. Disseram-lhe pois os Judeus: a nós não nos é lícito matar a alguém.
  32. Para que se cumprisse a palavra de Jesus, que tinha dito, significando de que morte havia de morrer.
  33. Assim que Pilatos tornou a entrar na Audiência, e chamou a Jesus, e disse-lhe: és tu o Rei dos Judeus.
  34. Respondeu-lhe Jesus: Dizes tu isso de ti mesmo, ou disseram-to outros de mim?
  35. Pilatos respondeu: porventura sou eu Judeu? tua gente, e os Príncipes dos Sacerdotes te entregaram a mim; que fizeste?
  36. Respondeu Jesus: meu Reino não é deste mundo; se meu Reino fora deste mundo, meus servidores pelejariam, para que eu aos Judeus não fosse entregue; porém agora meu Reino não é daqui.
  37. Disse-lhe pois Pilatos: Logo és tu Rei? Respondeu Jesus: Tu dizes que eu sou Rei. Eu para isto sou nascido, e para isto vim ao mundo, para dar testemunho à verdade. Todo aquele que é da verdade, ouve minha voz.
  38. Disse-lhe Pilatos: que coisa é verdade? e havendo dito isto, tornou a sair aos Judeus, e disse-lhes: nenhum crime acho nele.
  39. Mas vós outros tendes por costume, que eu vos solte um pela Páscoa. Quereis pois que vos solte ao Rei dos Judeus?
  40. Tornaram pois todos a clamar, dizendo: não a este, senão a Barrabás. E era Barrabás um salteador.