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João Ferreira de Almeida 1819 (ortografia atualizada)/Mateus/XXI

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  1. E COMO chegaram perto de Jerusalém, e vieram a Betfagé, ao monte das Oliveiras; então mandou Jesus dois discípulos, dizendo-lhes:
  2. Ide à aldeia que de frente de vós está e logo achareis uma burra ligada, e um poldro[1] com ela; desligai-a, e trazei-mos.
  3. E se alguém vos disser alguma coisa, direis: Que o Senhor os há mister, e logo os enviará.
  4. Ora tudo isto aconteceu, para que se cumprisse o que foi dito pelo Profeta, que disse:
  5. Dizei à filha de Sião: Vês aqui teu rei te vem manso, e assentado sobre uma burra, e um poldro[1], filho de burra de jugo.
  6. E indo aos discípulos, e fazendo como Jesus lhes mandara:
  7. Trouxeram a burra e o poldro[1], e puseram sobre eles seus vestidos, e o fizeram assentar sobre eles.
  8. E a mais companhia estendiam seus vestidos pelo caminho, e outros cortavam ramos das árvores, e os espalhavam pelo caminho.
  9. E as companhias que iam adiante, e as que seguiam clamavam, dizendo: Hosana ao filho de Davi; bendito o que vem no nome do Senhor; Hosana nas alturas.
  10. E entrando ele em Jerusalém, toda a cidade se alvoroçou, dizendo: Quem é este?
  11. E as companhias diziam: Este é Jesus, o Profeta de Nazaré de Galileia.
  12. E entrou Jesus no Templo de Deus: e lançou fora a todos os que vendiam, e compravam no Templo, e transtornou as mesas dos cambiadores, e as cadeiras dos que vendiam pombas.
  13. E disse-lhes: Escrito está: Minha casa, casa de oração será chamada; mas vós outros a tendes feito cova de salteadores.
  14. E vieram a ele cegos e coxos ao Templo, e curou-os.
  15. Vendo então os príncipes dos sacerdotes e os escribas as maravilhas que fazia, e os meninos clamando no Templo, e dizendo: Hosana ao filho de Davi; indignaram-se.
  16. E disseram-lhe: Ouves o que estes dizem? e Jesus lhes disse: Sim; nunca lestes: Da boca dos meninos, e dos que mamam, te aperfeiçoaste o louvor?
  17. E deixando-os, saiu-se fora da cidade para Betânia, e passou ali a noite.
  18. E pela manha, tornando para a cidade, teve fome.
  19. E vendo uma figueira perto do caminho, veio a ela, e não achou nela senão folhas somente. E disse-lhe: Nunca de ti mais nasça fruto para sempre. E logo a figueira se secou.
  20. E vendo os discípulos isto, maravilharam-se, dizendo: Como se secou a figueira?
  21. Porém respondendo Jesus, disse-lhes: Em verdade vos digo, Que se tivéreis fé, e não duvidáreis, não só isto fareis a figueira, mas se até a este monte disséreis: Alça-te, e lança-te no mar; far-se-ia.
  22. E tudo o que na oração pedirdes, crendo, o recebereis.
  23. E como veio ao templo, chegaram a ele, estando já ensinando, os príncipes dos sacerdotes, e os anciãos do povo, dizendo: Com que autoridade fazes isto? e quem te deu esta autoridade?
  24. E respondendo Jesus, disse-lhes: também eu vos perguntarei uma palavra; a qual se ma disserdes, também eu vos direi, com que autoridade isto faço.
  25. O batismo de João donde era? do céu, ou dos homens? e pensavam em si mesmos, dizendo: Se dissermos, Do céu, dir-nos-á: Porque pois lhe não crestes?
  26. E se dissermos: Dos homens, tememos a companhia; Porque tem a João por profeta.
  27. E respondendo a Jesus, disseram: Não sabemos. E ele lhes disse: Nem eu tão pouco vos direi com que autoridade isto faço.
  28. Mas que vos parece? Um homem tinha dois filhos; e chegando-se ao primeiro, disse: Filho, vai hoje a trabalhar à minha vinha.
  29. Porém respondendo ele, disse: Não quero; e depois, arrependido, foi-se.
  30. E chegando-se ao segundo, disse-lhe da mesma maneira; e respondendo ele, disse: Eu, senhor vou, e não se foi.
  31. Qual dos dois fez a vontade do pai? dizem-lhe eles: O primeiro. Diz-lhe Jesus: Em verdade vos digo, que os publicanos e as solteiras[2] se vos vão adiante ao reino de Deus.
  32. Porque veio a vós outros João, por via de justiça, e não lhe crestes; mas os publicanos, e as solteiras[2] lhe creram; porém vós outros, vendo isto, nem depois vós arrependestes, para lhe crer.
  33. Ouvi outra parábola. Houve um homem pai de famílias, o qual plantou uma vinha, e cercou-a com valado, e fundou nela um lagar, e edificou uma torre, e arrendou-a a uns lavradores, e partiu-se para fora da terra.
  34. E chegando-se o tempo dos frutos, mandou seus servos aos lavradores, para receberem seus frutos.
  35. E os lavradores tomando a seus servos, a um feriram, e a outro mataram, e a outro apedrejaram.
  36. Outra vez mandou a outros servos, mais que os primeiros, e fizeram-lhes o mesmo.
  37. E por derradeiro lhes mandou a seu filho, dizendo: Terão respeito a meu filho.
  38. Mas os lavradores vendo ao filho, disseram entre si: este é o herdeiro, vinde, matemo-lo, e tomemos sua herança.
  39. E tomando, o lançaram fora da vinha, e o mataram.
  40. Pois, quando vier o Senhor da vinha, que fará aqueles lavradores?
  41. Dizem-lhe eles: Aos maus má morte dará, e a vinha arrendará a outros lavradores, que lhe deem os frutos a seus tempos.
  42. Diz-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra que os edificadores rejeitaram, esta foi feita por cabeça da esquina? pelo Senhor foi feito isto, e é maravilhoso em nossos olhos.
  43. Portanto vos digo, que o reino de Deus se vos tirará a vós outros, e se dará a gente que renda seus frutos.
  44. E quem cair sobre esta pedra, será quebrantado; e quem sobre ela cair, esmiuçá-lo-á.
  45. E ouvindo os príncipes dos sacerdotes, e os Fariseus estas suas parábolas, entenderam que falava deles.
  46. E procurando prendê-lo, temeram as companhias; porquanto o tinham por Profeta.

Notas

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  1. 1,0 1,1 1,2 poldro — aqui, filhote de jumenta
  2. 2,0 2,1 solteiras — aqui, significa prostitutas, não as mulheres solteiras no sentido atual