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João Pateta (edição de 1877)

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João era filho d'uma pobre viuva, bom rapaz, mas um pouco simplorio. A gente da aldeia chamava-lhe por brincadeira João Pateta. Um dia sua mãe mandou-o á feira comprar uma foice. Á volta, começou a andar com a foice á roda, de maneira que a foice caiu em cima d'uma ovelha, e matou-a.

— Pateta, disse-lhe sua mãe, o que deverias ter feito era pôr a foice em um dos carros de palha ou de feno d'algum dos visinhos.»

— Perdão, mãe, respondeu humildemente João, para a outra vez serei mais esperto.»

Na semana seguinte mandaram-n'o comprar agulhas, recommendando-lhe que as não perdesse.

— Fique descançada. E voltou todo orgulhoso.»

— Então, João, onde estão as agulhas?»

— Ah! estão em lugar seguro. Quando sahi da loja em que as comprei, ia a passar o carro do visinho carregado de palha; metti lá as agulhas, não podem estar em sitio melhor.»

— De certo, estão em lugar de tal modo seguro, que não ha meio de as tornar a ver. Devias tel-as espetado no chapéo.»

— Perdão, respondeu João, para a outra vez, heide ser mais esperto.»

Na outra semana, por um dia de calor, João foi d'ali uma legua comprar uma pouca de manteiga. Lembrando-se do ultimo conselho de sua mãe, poz a manteiga dentro do chapéo e o chapéo na cabeça. Imagine-se o estado em que voltou para casa, com a cara a escorrer manteiga derretida.

A mãe já tinha medo de o mandar fazer qualquer recado. No entanto um dia resolveu-se a mandal-o á feira vender duas gallinhas.

— Ouve bem, não vendas pelo primeiro preço. Espera que te offereçam outro.»

— Está entendido, respondeu João.»

Foi para a feira. Um freguez chegou-se a elle.

— Queres seis tostões por essas gallinhas?»

— Ora adeus! minha mãe recommendou-me, que não acceitasse o primeiro preço, mas que esperasse o segundo.»

— E tens muita rasão. Dou-te um cruzado.»

— Está bem. Parece-me que tinha feito melhor em acceitar o primeiro, mas, como cumpro as ordens de minha mãe, ella não tem que me ralhar.»

Depois d'isto, João foi condemnado a ficar em casa. Sua mãe sabia que mangavam com elle, e se riam d'ella. Uma manhã quiz fazer uma experiencia, e disse-lhe:

— Vae vender este carneiro á feira. Mas não te deixes enganar. Não o entregues senão a quem te der o preço mais elevado.»

— Está bem, agora entendo, e sei o que hei de fazer.»

— Quanto queres por esse carneiro?

— Minha mãe disse-me que o não vendesse senão pelo preço mais elevado.

— Quatro mil réis?»

— É o preço mais elevado?»

— Pouco mais ou menos.»

— É minha a lã e o carneiro, disse um rapaz que trepára a uma escada.

— Quanto?»

— Dez tostões:»

— É menos, respondeu timidamente o João.»

— Sim, mas vês até onde chega esta escada. Em toda a feira não ha um preço mais elevado.»

— Tem rasão. É seu o carneiro.»

Desde esse dia o João Pateta não tornou a ser encarregado de vender ou comprar cousa alguma.