Lírio Astral
Lírio astral, ó lírio branco
Ó lírio astral,
No meu derradeiro arranco
Sê cordial!
Perfuma de graça leve
O meu final
Com o doce perfume breve,
Ó lírio astral!
Dá-me esse óleo sacrossanto
Toda a caudal
Do óleo casto do teu pranto,
Ó lírio astral!
Traz-me o alivio dos alívios,
Ó virginal,
Ó lírio dos lírios níveos,
Ó Lírio astral!
Dentre as sonatas da lua
Celestial,
Lírio, vem, Lírio, flutua,
Ó Lírio astral!
Dos raios das noites de ouro,
Do Roseiral,
Do constelado tesouro,
Ó lírio astral!
Desprende o fino perfume
Etereal
E vem do celeste fume,
Ó lírio astral!
Da maviosa suavidade
Do céu floral
Traz a meiga claridade,
Ó lírio astral!
Que bendita e sempre pura
E divinal
Seja-me a tua frescura,
Ó lírio astral!
Que ela, enfim, me transfigure,
Na hora fatal
E os meus sentidos apure,
Ó lírio astral!
Que tudo que me é avaro
De luz vital,
Nessa hora se tome claro,
Ó lírio astral!
Que portas de astros, rasgadas
Num céu lirial,
Eu veja desassombradas,
Ó lírio astral!
Que eu possa, tranqüilo, vê-las,
Limpo do mal,
Essas mil portas de estrelas
Ó lírio astral!
E penetrar nelas, calmo,
Na paz mortal,
Como um davídico salmo,
O lírio astral!
Vento velho que soluça
Meu Sonho ideal,
No Infinito se debruça,
Ó lírio astral!
Por isso, lá, no Momento,
Na hora fetal,
Perfuma esse velho vento
Ó lírio astral!
Traz a graça do Infinito,
Graça imortal,
Ao velho Sonho proscrito,
Ó lírio astral!
Adoça-me o derradeiro
Sonho feral
O lírio do astral Cruzeiro
Ó lírio astral!
Se, o Lírio, ó doce Lírio
De luz boreal
Na morte o meu claro círio,
Ó lírio astral!
Perfuma, Lírio, perfume,
Na hora glacial,
Meu Sonho de Sol, de Bruma,
Ó lírio astral!
Que eu suba na tua essência
Sacramental
Para a excelsa Transcendência,
Ó lírio astral!
E lá, nas Messes divinas,
Paire, eternal,
Nas Esferas cristalinas,
Ó lírio astral!