Lisia poetica/Tomo 1º/Introducção
É n’estes ultimos annos que os talentos juvenis tem surgido em Portugal de uma maneira espantosa. Com tudo, as suas producções são pouco conhecidas; porque a maior parte d’elles publicam-as nos jornaes litterarios, e estes jornaes quasi nunca chegam ao dominio do publico do Rio de Janeiro, porque ordinariamente morrem à nascença, ou se passam do terceiro numero é já um milagre. Nao pertencemos ao numero dos depreciadores das cousas alhêas, mas não podemos deixar de concordar que o jornalismo litterario, é, de todas as formas escriptas, aquella que menos medra n’aquelle paiz. Entretanto não deixamos de confessar que em Portugal ha homens aliás de muito engenho e zelo pelas lettras; porém não souberam ou nao quizeram aproveitar a quadra de enthusiasmo para poderem crear o gosto; deixaram essa missão entregue a especuladores ávidos, e sem instrucção, que quasi tornaram esteril a arvore, que podia enriquecer-se, e dar fructos.
Houve fraqueza imperdoavel n’esta indifferença: os homens de talento deviam saber collocar-se no seu logar, e expulsar os vendilhões do templo. Cumpria-lhes incessantemente affastar os insolentes, que queriam usurpar para si o sceptro, que só pertence á intelligencia, e á illustração litteraria.
Este desleixo comprometteu seriamente os interesses de muitos jovens; porque o povo vendo que se abusava da sua paciencia, poz-se em reacção aberta com o jornalismo; e moços de grandes esperanças, acharam-se privados de poderem communicar ao publico o fructo de suas locubrações. Outro motivo tambem havia: os empresários d’estas publicações, mendigavam artigos por toda a parte, e, ou não pagavam aos auctores o que seus artigos valiam , ou se lhes pagavam era tão miseravelmente, que mais valia um obrigado da redacção.
E’ por isto que os escriptores portuguezes modernos são pouco conhecidos no Rio de Janeiro.
Foi para preencher esta lacuna, que resolvemos dar ao publico um jornal de poesia todos os domingos. E’ uma escolha selecta de todas as poesias que os poetas portuguezes modernos tem publicado em varios jornaes litterarios portuguezes, que pela sua ephemera duração não tem chegado ao domínio do publico do Rio de Janeiro; por isso parece-nos poder tambem affiançar que todas as poesias reproduzidas no nosso jornal são novas para elle.