Marília de Dirceu/II/XIV
Alma digna de mil Avós Augustos!
Tu sentes, tu soluças,
Ao ver cair os justos;
Honras as santas leis da Humanidade:
E os teus exemplos deve
Gravar com letras de ouro no seu Templo
A cândida Amizade.
Não é, não é de Herói uma alma forte,
Que vê com rosto enxuto
No seu igual a morte.
Não é também de Herói um peito duro,
Que a sua glória firma
Em que lhe não resiste ao ferro, e fogo,
Nem legião, nem muro.
Oh! quanto ousado Chefe me namora,
Quando vê a cabeça
Do bom Pompeu, e chora!
É grande para mim, quem move os passos,
E de Dario aos filhos,
Que como escravos seus tratar pudera,
Recebe nos seus braços.
Se alcança Eneias, capitão piedoso,
Entre os Heróis do Mundo
Um nome glorioso,
Não é, porque levanta uma cidade;
É sim, porque nos ombros
Salvou do incêndio ao Pai, a quem destina
A mão de longa idade.
Ah! se ao meu contrário entre as chamas vira,
Eu mesmo, sim, da morte
Aos ombros o remira.
Inda por ele muito mais obrara.
E se nada servisse,
Fizera então, Amigo, o que fizeste;
Gemera, e suspirara.
Oh! quanto são duráveis as cadeias
De uma amizade, quando
Se dão iguais ideias!
Se apesar dos estorvos se sustinha
Nossa união sincera,
Foi por ser a minha alma igual à tua,
E a tu igual à minha.
Se o caro Amigo te merece tanto,
Lá lhe fica a sua alma,
Limpa-lhe o terno pranto.
De quem eu falo, és tu, Marília bela.
Ah! sim, honrado Amigo,
Se enxugar não puderes os seus olhos,
Pranteia então com ela.