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Marília de Dirceu/III/X

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Dês que vi, formosa Elvira,
Os teus divinos cabelos,
Esses vivos olhos belos,
Que inveja dos astros são,
Foi-se, Elvira, foi-se embora
Toda a paz do coração.
E talvez, talvez que Elvira
Nem se lembre de que Alceu,
Se suspira,
Se delira,
É só por motivo seu.

Enquanto, Elvira, se oculta
A meus olhos teu semblante,
Um minuto, um breve instante
Parece que fim não tem.
Se alcanço de ver-te a glória,
Então voa o tempo bem.
E talvez, talvez que Elvira
Nem se lembre de que Alceu,
Se suspira,
Se delira,
É só por motivo seu.

Quando te ris por acaso
Para outro qualquer sujeito,
Estala dentro do peito
De ciúme o coração;
Se me pões os olhos, julgo
Que zombas de mim então.
E talvez, talvez que Elvira
Nem se lembre de que Alceu,
Se suspira,
Se delira,
É só por motivo seu.

Quando há brinco na floresta,
E a divina Olaia canta,
O mesmo gado levanta
A cabeça para ouvir.
Só por mais que Alceu forceje
Não pode o prazer fingir.
E talvez, talvez que Elvira
Nem se lembre de que Alceu,
Se suspira,
Se delira,
É só por motivo seu.

Quando levo à clara fonte
O rebanho do meu gado,
Cai-me da mão o cajado,
E com ela à testa vou:
Fico pasmado, e ignoro
O lugar aonde estou.
E talvez, talvez que Elvira
Nem se lembre de que Alceu,
Se suspira,
Se delira,
É só por motivo seu.

Quando eu vou segar o trigo
(Olha bem como ando cego!),
Numa parte nele pego,
Meto noutra a fouce em vão;
Dos que veem, alguns se riem,
Outros mostram compaixão.
E talvez, talvez que Elvira
Nem se lembre de que Alceu,
Se suspira,
Se delira,
É só por motivo seu.

Quando me deito no colmo,
Sempre sonho que te vejo,
Que. te falo, e que te beijo
A branca, nevada mão.
Acordo, Pastora, e foges:
E talvez, talvez que Elvira
Nem se lembre de que Alceu,
Se suspira,
Se delira,
É só por motivo seu.

Quando alguém meu mal pergunta,
Bem que seja a vez primeira,
Rompo, ainda que não queira,
O segredo, sem saber:
O teu nome, Elvira, digo,
Quando devo o seu dizer.
E talvez, talvez que Elvira
Nem se lembre de que Alceu,
Se suspira,
Se delira,
É só por motivo seu.

Fujo ao trato dos pastores,
Para um bosque me retiro;
Com desafogo suspiro,
E chamo por ti, meu bem.
Os vales, que se enternecem,
Chamam-te ao longe também.
E talvez, talvez que Elvira
Nem se lembre de que Alceu,
Se suspira,
Se delira,
É só por motivo seu.

Quando escuto o triste mocho
A gemer no meu telhado,
Qualquer mal excogitado
Não me deve algum temor:
Só receio que me agoure
Mau sucesso ao meu amor.
E talvez, talvez que Elvira
Nem se lembre de que Alceu,
Se suspira,
Se delira,
É só por motivo seu.

Os pastores que me avistavam
Com o dedo já me apontavam,
E à roda do fogo contam
Da maneira de que me veem.
Sou o exemplo dos amantes
Que esta nossa Aldeia tem.
E talvez, talvez que Elvira
Nem se lembre de que Alceu,
Se suspira,
Se delira,
É só por motivo seu.