Memória sobre a ilha Terceira/IV/VII
CAPÍTULO VII Igrejas da cidade de Angra Sé Catedral Está situada quase a meio da Rua da Sé, no mesmo lugar onde outrora existiu a igreja paroquial de São Salvador, quando a atual cidade era vila. Naquela época ficou São Salvador sendo o orago da freguesia, e tudo leva a crer que a sua igreja ficasse concluída em 1486, pois que a nomeação do seu primeiro vigário tem a data de 28 de novembro daquele ano; e foi esse vigário o Padre Luís Anes, capelão de Sua Alteza a Infanta D. Beatriz. Tendo sido criado o bispado de Angra em 1534, pelo Papa Paulo III, e não tendo a igreja dimensões suficientes para comportar a população, a Câmara de Angra requereu então a El-Rei em 1557, para se construir a nova Sé no mesmo lugar em que estava a de São Salvador. Só a 10 de janeiro de 1568 é que o cardeal D. Henrique, sendo já Rei de Portugal, mandou expedir o alvará para que se edificasse o novo templo, mandando ao mesmo tempo um arquiteto especial, Luís Gonçalves, que elaborou o plano. A 18 de novembro de 1570 era lançada a primeira pedra nos alicerces, pelo deão Baltazar Gonçalves e em 1618 ficaram concluídos os primeiros trabalhos, que duraram 48 anos e importaram em 46:448$673 réis, não se sabendo ao certo quando se ultimaram depois as obras de aperfeiçoamento. Quando em 1808, o Bispo D. José Pegado de Azevedo reconheceu que nada constava por monumento algum, nem por tradição, que esta igreja tivesse sido sagrada, resolveu efetuar a sagração no dia 16 de outubro daquele
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ano, colocando no altar-mor as relíquias dos santos mártires Benedito e Primo-Veracundo, encerradas num pequeno cofre. Esta igreja é a principal e a maior de todas as do arquipélago açoriano; e o Padre Cordeiro, na sua História Insulana, em atenção à sua grandeza, apelidou-a de Real Sé de Angra. De facto, é a grandeza deste templo que o torna recomendável, porque não prima pela arquitetura, que não obedece a estilo algum conhecido. O seu frontispício está voltado ao norte e é constituído por uma parte central, ampla, onde se veem três grandes arcadas em baixo, e por cima três janelas, sobre as quais se apoia um frontão onde está o relógio que foi ali colocado em 1782 e que regula para toda a cidade. Por cima deste há uma pequena sineira encimada por uma grande cruz de ferro. As duas partes laterais do frontispício sustentam na sua parte superior as sineiras, dispostas em duas ordens, podendo comportar 32 sinos; e têm de altura, a contar do adro, 25 metros e 20 centímetros, e terminam, cada uma, por uma grimpa com 9 metros e 90 centímetros de altura. Transpondo-se as arcadas do frontispício, entra-se em um largo pórtico, ao fundo do qual há três grandes portadas que dão ingresso para o interior do templo, sendo a do meio, que de ordinário serve de entrada, resguardada por um para-vento. O interior da igreja é dividido em três naves, e o seu elevado teto é sustentado por doze colunas quadrangulares, de pedra pintada a óleo. No fim da nave central existe a capela-mor, num plano mais elevado, cujos lados são constituídos por seis colunas de ordem jónica, todas douradas, formando um semicírculo; e destacada do resto do edifício, por um corredor que dá servidão às principais sacristias. Ao fundo da capela-mor encontra-se no altar, a imagem de Nossa Senhora da Conceição, padroeira do reino, que, durante uma certa época do ano é substituída pela de São Salvador, orago da igreja. Por cima do arco, que constitui a entrada desta capela, estão as armas reais, e por cima delas um grande Crucifixo. Na face externa das colunas estão as imagens, em vulto, dos apóstolos São Pedro e São Paulo. Descendo da capela-mor, entra-se no coro capitular, que é amplo, no centro do qual se vê uma linda estante de jacarandá com embutidos de marfim, encimada por uma cruz da mesma substância, assente sobre uma esfera, em volta da qual se lê a legenda Ave Crvx Spes Vnica. De cada lado do coro capitular existem doze cadeiras fixas em pavimento superior, para as dignidades e cónegos, sendo a primeira de cada lado, mais elevada que as outras e destinada à capítula. Abaixo das cadeiras dos cónegos correm as bancadas dos beneficiados, e por diante destas as dos capelães e meninos do coro. Logo em seguida ao coro capitular, e no espaço que medeia entre duas
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colunas, existem dois órgãos, um de cada lado, sendo o do lado da epístola, o maior e mais bonito, oferecido pela Rainha Senhora D. Maria I, a pedido do Bispo D. Fr. João Marcelino. Fronteiro a este, está outro órgão construído pelo Padre Joaquim Silvestre Serrão1, colocado no seu respetivo coreto em 1854. Na nave lateral, do lado do evangelho, encontra-se primeiramente a sumptuosa capela do Santíssimo Sacramento, onde está um magnífico camarim com trono, todo dourado, para a exposição do Sacramento. O frontal do altar é de prata com baixos relevos, alegóricos a diversas passagens da Escritura. Nesta capela encontram-se também três ricas lâmpadas que pendem do teto, e está vedada por um gradeamento baixo de jacarandá e por uma porta de grades dourada. No fecho do arco desta capela vê-se um grande tarjão em forma de estrela com raios dourados e sobre o fundo, que é azul celeste, lê-se a seguinte inscrição «Ecce! Tabernacvlvm Dei cvm hominibvs». A seguir encontram-se quatro capelas ou altares, que são: — a de Nossa Senhora do Rosário, com mais três pequenas imagens de São José, São Libório e São Francisco de Borgia; — a do Senhor Jesus dos Aflitos, onde está uma boa imagem escultural de Jesus Crucificado, tendo aos pés da cruz duas imagens grandes de Nossa Senhora e São João Evangelista, e logo abaixo um pequeno oratório de madeira dourada com o Coração de Jesus, oferecido a esta igreja pela Rainha Senhora D. Maria I. No retábulo desta capela encontram-se também duas grandes imagens: uma de Santo Agostinho e outra de Santa Mónica; e nas paredes laterais dois quadros a óleo, sem mérito artístico, representando duas passagens de Cristo; — a capela de Santa Ana onde está também a imagem de São Joaquim. — finalmente a das Almas onde se vê, ao centro, a imagem de São João e dos lados as de Santo Amaro e São Jorge. No princípio deste corredor, e ao lado da porta de entrada, está o Baptistério, onde se vê uma boa pia de mármore, e por cima dela um quadro a óleo, representando o Baptismo de Cristo. Na nave do lado da epístola, e simetricamente disposta em relação à capela do Santíssimo, está uma outra, onde se vê uma boa imagem de Santo Cristo, conhecida também pelo nome de Senhor Jesus Velho, abaixo uma linda imagem de Nossa Senhora de Lourdes. A seguir temos também quatro capelas ou altares, que são: — a de Santo Estêvão, com a imagem deste santo ao centro, e dois painéis, um de cada lado, representando São Francisco e Santo António. Por cima da imagem está um outro painel representando o apedrejamento do Santo; — a de São Pedro ad Vincula, cuja imagem tem grande valor escultural, tendo de um lado a imagem de São Luís, rei de França, e do outro a de Santa Rosa. Esta capela era antigamente de Nossa Senhora da Conceição, cuja imagem está
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hoje num pequeno nicho, no alto do retábulo da capela. Foi a irmandade dos clérigos pobres que construiu a atual capela, digna de menção não só pelo trabalho artístico do retábulo como pela escultura das imagens que encerra; — a de Santo António com uma boa imagem deste santo que poucas vezes está exposta. — finalmente a capela de São Brás, tendo de um lado a imagem de Santa Rita e do outro a de Santa Águeda. Sobre o pórtico existe um grande coreto, que poucas vezes tem servido desde que foram colocados os dois órgãos. Caminhando pelo corredor que circunda a capela-mor, penetra-se na grande sacristia da igreja, ao fundo da qual está um altar com a imagem de Santo Cristo e abaixo um crucifixo, cuja imagem de prata tem valor artístico. De cada lado da sala, e junto das paredes, correm grandes mesões de madeira do Brasil, com oito gavetões cada um, e onde estão guardados os paramentos e alfaias de uso ordinário. Por cima destes mesões vê-se, à direita, os vultos dos quatro evangelistas São João, São Mateus, São Marcos e São Lucas, e no outro lado os doutores da igreja São Gregório, São Boaventura, Santo Ambrósio e Santo Agostinho. No teto desta sacristia está um quadro representando Nossa Senhora da Conceição, padroeira do reino, e que antigamente pertencia à sala das sessões da Junta da Real Fazenda, e sobre a porta principal um outro representando a Descida do Espírito Santo, e aos lados dois grandes painéis, um de São Francisco e outro de Santo António. Esta sacristia comunica, à direita, com uma outra mais pequena, denominada de Nossa Senhora do Rosário ou a dos capelães. Por detrás da capela de Nossa Senhora de Lourdes, existe uma sacristia para onde se entra pelo corredor lateral à capela-mor e que é destinada aos cónegos. Esta sala serviu em tempo de aula de música, latim e moral. Nas paredes desta sacristia veem-se suspensos várias quadros a óleo que, sem terem valor artístico, têm contudo o merecimento de constituírem uma pintura a óleo sobre madeira, representando várias passagens da vida de Jesus. Além destas sacristias, temos ainda duas outras mais pequenas: uma de São Pedro ad Vincula ou dos meninos do coro, e que serviu também de aula de música; e a outra da Confraria do Santíssimo, entre a capela das Almas e a de Santa Ana. Por cima da sacristia dos cónegos há uma sala que antigamente comunicava com o exterior por uma alta escadaria, e que serviu de Tribunal Eclesiástico. Hoje comunica só com a sacristia por uma escadaria em hélice, de pedra, a única que temos visto neste género, não só pela solidez que apresenta, como pela particularidade de qualquer observador colocado no cimo da escada ver, segundo uma linha vertical, um outro colocado na
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base. Esta sala, que hoje nada tem, está reservada para o tesouro das alfaias que, convenientemente dispostas, poderão mais facilmente ser apreciadas. Exteriormente à sacristia grande, existe um pequeno espaço ajardinado, onde está a aula de música, e uma larga escadaria por onde se sobe para a casa do cabido ou das sessões capitulares, que se compõe de um vasto salão com janelas voltadas para a cidade, tendo na sua parte mais nobre um pequeno altar onde está a imagem de São Salvador, quando esta não pode figurar na capela-mor. No teto vê-se um escudo com as armas reais e nas paredes os retratos dos Bispos desta diocese que são, pela sua ordem, os seguintes: 1. D. Agostinho Ribeiro. — Confirmado Bispo em 3 de novembro de 1534. Governou o bispado durante sete anos, não residindo todo este tempo na sua igreja. Faleceu em 1546, Bispo de Lamego para onde tinha sido transferido. 2. D. Rodrigo Pinheiro. — Confirmado Bispo em 24 de setembro de 1540. Nunca veio aos Açores, e mandou em seu lugar o Bispo de Lora, D. Baltazar de Évora. Foi transferido para o Porto onde faleceu em 1572. 3. D. Fr. Jorge de Santiago. — Confirmado em 24 de agosto de 1552. Entrou na sua igreja em 1553 e faleceu nesta cidade a 26 de outubro de 1561, sendo sepultado na capela-mor da Sé. 4. D. Manuel de Almada. — Nomeado Bispo por D. João III em 1564, nunca veio aos Açores e renunciou à sua igreja em 1567. 5. D. Nuno Álvares Pereira. — Entrou na sua igreja em 1568, e faleceu Angra em 1570, sendo sepultado na Sé. 6. D. Gaspar de Faria. — Entrou na diocese em 1572 e faleceu repentinamente na Sé em 1576, onde jaz sepultado. 7. D. Pedro de Castilho. — Entrou em Angra em 1577 e faleceu em 1613, sendo então Bispo de Leiria, para onde tinha sido transferido em 1585. 8. D. Manuel de Gouveia — Foi provido na diocese de Angra em 1585 e faleceu em 1597, sendo sepultado na Sé. 9. D. Jerónimo Teixeira Cabral. — Entrou na diocese em 1600, sendo depois transferido para Miranda, onde faleceu em 1610. 10. D. Agostinho Ribeiro. — Confirmado Bispo de Angra em 12 de junho 1614, governou esta diocese até 1621, ano em que faleceu e jaz sepultado na Sé. 11. D. Pedro da Costa. — Entrou na sua igreja em 24 de agosto de 1623, faleceu na ilha de São Miguel a 9 de setembro de 1625, quando passava visita à sua diocese, e jaz sepultado na igreja matriz de São Sebastião em Ponta Delgada. 12. D. João Pimenta de Abreu. — Entrou na sua diocese em 19 de abril de 1626, e faleceu na ilha de São Miguel em 1632, sendo sepultado na matriz cidade de Ponta Delgada.
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13. D. Fr. António da Ressurreição. — Desembarcou em Angra a 24 de julho de 1635 e faleceu na ilha de São Miguel a 8 de abril de 1637. Com a morte deste Bispo ficou a Sé de Angra, sede vacante, até 1671, tendo sido nomeado, durante este longo período, Bispo desta diocese Fr. Pedro de Sousa, que nunca chegou a obter confirmação e talvez por isso se não encontre o seu retrato na sala do capítulo. 14. D. Fr. Lourenço de Castro.— Nomeado Bispo de Angra em 1671, entrou na sua igreja em 11 de novembro daquele ano, permaneceu nesta ilha até 1681, sendo depois transferido para Miranda, onde faleceu em 1684. 15. D. Fr. João dos Prazeres. — Entrou na Sé de Angra em 22 de agosto de 1683 e faleceu no 1.° de fevereiro de 1685, sendo sepultado no Colégio dos Jesuítas em Angra. 16. D. Fr. Clemente Vieira. — Entrou na Sé de Angra em 12 de outubro de 1688 e faleceu em Ponta Delgada em 24 de setembro de 1692, sendo sepultado na capela-mor de Nossa Senhora da Graça. 17. D. António Vieira Leilão. — Entrou em Angra a 16 de agosto de 1694 e faleceu na ilha de São Jorge a 22 de maio de 1714, sendo sepultado no mosteiro das religiosas do Rosário da Vila das Velas. Depois da morte deste Bispo, foi nomeado para esta diocese D. João de Brito de Vasconcelos, que faleceu a 30 de dezembro de 1719, sem ter tomado posse do seu lugar. Deste Bispo também não existe retrato na sala do capitulo. 18. D. Manuel Álvares da Costa. — Foi promovido a Bispo desta diocese em 1721, e faleceu nesta cidade, no mês de janeiro de 1733. 19. D. Fr. Valério do Sacramento. — Foi sagrado Bispo de Angra em outubro de 1738, e entrou na sua igreja, de que tomou posse, a 27 de agosto de 1741, e renunciou o bispado em 1755, depois de ter voltado a Lisboa, onde faleceu a 6 de novembro de 1760. 20. D. António Caetano da Rocha. — Nomeado Bispo de Angra em 2 de outubro de 1755 e confirmado em 19 de julho de 1756, tomou posse da diocese em 21 de novembro de 1758. Faleceu na ilha de São Miguel a 21 de junho de 1772 quando passava visita à sua diocese, e jaz sepultado na igreja matriz de Ponta Delgada. 21. D. Fr. João Marcelino dos Santos Homem Aparício. — Desembarcou em Angra a 15 de agosto de 1775, e faleceu na ilha de São Miguel a 21 de maio de 1782, sendo mais tarde transladados os seus restos mortais para a Sé de Angra. 22. D. Fr. José de Ave Maria da Costa e Silva. — Foi eleito Bispo de Angra a 24 de agosto de 1782 e confirmado a 26 de dezembro do mesmo ano. Entrou na sua igreja a 10 de dezembro de 1785, e permaneceu nesta ilha até 1792. 23. D. José Pegado de Azevedo. — Foi eleito e sagrado Bispo de Angra a 13 de novembro de 1801, tomou posse por procuração a 15 de dezembro daquele ano, e em igual dia de 1802 é que deu entrada na Sé Catedral. Mudou a sua residência para Ponta Delgada em 1810, pela guerra oculta que lhe fizeram em Angra, e faleceu a 19 de junho de 1812, no convento dos Gracianos em Ponta Delgada, onde residia.
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24. D. Fr. Alexandre da Sacra família. — Nasceu na cidade da Horta, e é o único Bispo açoriano que governou esta diocese. Foi eleito em 17 de dezembro de 1812 e faleceu nesta cidade a 22 de abril de 1818. Era tio do imortal escritor Visconde de Almeida Garrett, que aqui viveu algum tempo da sua infância. 25. D. Fr. Manuel Nicolau de Almeida. — Foi eleito Bispo de Angra em 3 de maio de 1819 e sagrado a 13 de agosto de 1820. Desempenhou um papel importante nas lutas políticas daquela época, sendo conduzido, debaixo de prisão, a Lisboa juntamente com o general Stockler, por ordem da Regência em 1821. Faleceu em 1825, Bispo eleito de Bragança. 26. D. Fr. Estêvão de Jesus Maria. — Foi eleito Bispo de Meliapor em 24 de junho de 1825, e transferido para a diocese de Angra a 3 de agosto de 1827, chegando à ilha de São Miguel a 2 de dezembro de 1840, onde residiu até 1859, desembarcando em Angra a 21 de setembro daquele ano. Aqui permaneceu o resto da sua vida, falecendo a 28 de julho de 1870, e jaz no cemitério do Livramento, em jazigo próprio, inaugurado em 1900, e para onde foram levados com grande pompa os seus restos mortais. 27. D. João Maria Pereira do Amaral e Pimentel — Foi eleito Bispo em 15 de julho de 1871, sagrado em 28 de abril de 1872, e desembarcou em Angra a 20 de agosto deste ano. Faleceu a 27 de janeiro de 1889 o jaz no cemitério do Livramento em jazigo próprio. 28. D. Francisco Maria de Sousa do Prado de Lacerda — Foi sagrado Bispo de Nilopolis e nomeado coadjutor e sucessor de D. João Maria Pereira do Amaral Pimentel em 1886, partindo logo para esta cidade, tomando posse da diocese logo que faleceu o seu antecessor. Em abril de 1891, estando em visita na ilha de São Miguel, adoeceu gravemente e recolheu-se à Chamusca, onde faleceu a 23 de dezembro do mesmo ano. 29. D. Francisco José Ribeiro de Vieira e Brito. — Eleito Bispo de Angra, deu entrada na sua igreja a 11 de abril de 1892, sendo transferido para o bispado de Lamego em 1902. 30. D. José Manuel de Carvalho. — Sendo Bispo de Macau, foi transferido para a diocese de Angra, entrando na Sé no dia 11 de novembro de 1902. É o atual Prelado, do qual não existe ainda o retrato. Entre as alfaias desta igreja, encontram-se como mais notáveis, dois pontificais completos que figuraram na Exposição de Arte Ornamental em Lisboa,2
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sendo um com bordado alto a oiro, e outro a retrós e fio de oiro; quatro massas de prata lavrada que servem em festas de primeira classe; dois turíbulos muito antigos também de prata lavrada; uma bacia e jarro de prata para a lavanda, oferta da família Canto ; e um belo crucifixo pequeno, de rico trabalho de escultura, e que só aparece na Sexta-feira Santa, no ato de adoração da Cruz. Igreja do Colégio Esta igreja, a segunda em grandeza, abaixo da Sé Catedral, é sem dúvida, um belo e sumptuoso templo, encerrando maravilhas de arte o possuidor de um esplêndido santuário. Fundado pelos jesuítas, a sua construção e disposição interna, obedece ao plano geral de todas as igrejas estabelecidas pela Companhia de Jesus. A igreja está situada no Largo do Prior do Crato, e a fundação deste importante edifício data de 1637, em que se abriram os seus alicerces; e os trabalhos da edificação duraram por espaço de quinze anos, vindo a concluir-se em 1652. A 27 de julho deste ano foi conduzido para esta igreja, em solene procissão, o Santíssimo Sacramento, que até então existia no primeiro hospício que os padres jesuítas possuíram em Angra. E como a história da igreja do Colégio anda ligada à do estabelecimento da Companhia de Jesus na ilha Terceira, por isso diremos o que se sabe a este respeito, o que por certo captará a curiosidade do leitor. No ano de 1569, sendo provincial da Companhia de Jesus, o Padre Leão Henriques, mandou El-Rei D. Sebastião, que governava Portugal, fundar à custa da Real Fazenda, os conventos de jesuítas na Madeira e em Angra. Em consequência da epidemia da peste que então grassava em Lisboa, só em maio de 1570, é que partiram para os seus destinos os jesuítas que deviam constituir colégios nas duas ilhas, chegando a Angra no dia 31 de maio, onze padres da Companhia, sendo o seu primeiro reitor o Padre Luís de Vasconcelos, neto do Conde de Penalva, e que acumulava o cargo de mestre dos casos. No dia 1.° de junho daquele ano, desembarcavam os padres jesuítas, sendo recebidos com grande júbilo e com todas as demonstrações de geral agrado e com extraordinária consideração do Bispo D. Nuno Álvares Pereira, que então governava a diocese. Hospedaram-se primeiramente na Misericórdia, mas logo lhes foi oferecido para residência provisória, uma grande casa com igreja contígua, cuja invocação era de Nossa Senhora das Neves, que o fidalgo João da Silva do Canto possuía no extremo sul da Rua de Jesus, junto à Rocha, e que ele fundara para recolhimento dos meninos órfãos. Esta igreja foi mais tarde
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demolida, e no seu lugar veem-se as grandes casas que foram da família Mesquita e que hoje pertencem à família Xavier de Andrade. Aqui residiram, pois, os primeiros jesuítas que vieram para os Açores, e só em 20 de março de 1572 é que El-Rei D. Sebastião, por carta régia datada de Almeirim, concedeu licença para a fundação do colégio, com a pensão anual de 600$000 réis, investindo-se na qualidade de seu fundador, do que resultou, para este Colégio, o título de Real Colégio da Companhia de Jesus. O mesmo D. Sebastião ofereceu depois a este estabelecimento o seu retrato a óleo, que hoje está guardado na repartição das Obras Públicas deste distrito, e ao qual se refere o Visconde de Almeida Garrett em uma nota do seu drama «Frei Luís de Sousa» dizendo que é o «retrato mais próprio e mais natural e talvez o mais exato que se julga haver». Em 1658 davam-se por completos todos os trabalhos de ornato, doiradura, colocação de retábulos e quadros a óleo que ainda se encontram neste belo templo. O aspeto exterior do edifício não é o de uma igreja qualquer e só se reconhece que é um templo pela existência de duas sineiras colocadas na sua parte superior. Na parte inferior do edifício, cujo comprimento é de 24,50 m e a altura de 28,75 m, veem-se três grandes portadas, sendo a do meio maior que as outras. Por cima destas portadas, correm duas ordens de janelas de vários formatos, e na parte superior encontra-se um terraço que abrange toda a largura do edifício. Entrando no edifício pela porta principal, que é resguardada por um para-vento, deparamos logo com um vasto templo que pode comportar 2:000 pessoas, pouco mais ou menos, e formado duma só nave. O teto é abobadado e forrado de madeira de cedro, primorosamente esculpido, com exceção da capela-mor, cujo teto é de abobada de pedra. De cada lado do corpo da igreja encontram-se três capelas fundas resguardadas por gradeamentos baixos de jacarandá, e por cima de todas estas capelas, correm largas galerias que para o interior do templo deitam grandes janelas ou tribunas, que, no tempo dos jesuítas, eram ocupadas pela nobreza da cidade na ocasião das festas religiosas. Por cima do para-vento corre um largo coreto que ocupa toda a largura do templo e onde se encontra um pequeno órgão. Na capela-mor, cujas dimensões estão proporcionadas à grandeza do templo, encontra-se um vasto camarim, por cima do qual está um bom quadro a óleo, representando a Assunção da Virgem. De cada lado deste camarim, e sobrepostos dois a dois, estão quatro nichos de colunas caneladas e doiradas, onde estavam colocadas, até à pouco tempo, as imagens de Santo Inácio de Loiola, orago da igreja, a de São Francisco de Borja, São Francisco Xavier e
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a de Santa Teresa; atualmente, apenas se veem nos dois nichos inferiores, as imagens de Santo Inácio de Loiola e a de São Simão Stock. Nas paredes laterais desta capela, existem grandes quadros a óleo, alusivos à vida de Inácio de Loiola, mas que não têm mérito artístico. Por cima destes quadros, há de cada lado uma janela ou tribuna, onde os antigos capitães generais, que então habitavam o Colégio, assistiam ao ofício da missa. Por cima do grande arco da entrada para a capela-mor, estão as armas reais com o escudo usado no tempo de El-Rei D. Sebastião, e ainda por cima delas, o emblema da Companhia de Jesus — J. H S. Na base deste arco, e assentes sobre duas peanhas de madeira, uma de cada lado, estão as imagens primorosas de Santo Elias e de Santa Teresa. Do lado do evangelho, e a contar da entrada, existem as seguintes capelas: — a do Senhor Jesus Crucificado, uma bela imagem de grandeza natural, onde se admira o primor da escultura. Por baixo desta imagem está a do Senhor Morto, encerrada em um sepulcro doirado. Os lados desta capela são ornados por dois grandes quadros a óleo representando a Paixão de Cristo; — a de São Francisco Xavier, imagem de merecimento artístico. Os lados desta capela apresentam até meio de altura, um primoroso retábulo de madeira em embutidos, tendo por cima dois quadros bons, a óleo, um dos quais representa o Apóstolo das Índias convertendo dois pagãos, e o outro, o desembarque do mesmo Apóstolo depois de uma grande tempestade em que esteve quase a soçobrar; — a de Santa Teresa, com quatro nichos doirados, onde está só a imagem de São João Baptista Machado, natural desta cidade. Do lado da epístola e vis-à-vis dos primeiros, temos: — a capela da invocação de Nossa Senhora da Conceição, com uma boa imagem colocada no meio de um retábulo de cedro, primorosamente esculpido. Nas paredes desta capela destacam-se dois grandes quadros a óleo, representando o Nascimento de Cristo e a Epifania; — a do Senhor Jesus dos Passos, com uma boa imagem, que, outrora pertencia ao convento da Graça desta cidade; — a de Santo André e São Pedro, onde estes dois santos estão representados num esplêndido quadro, que constitui o fundo da capela. Nas paredes laterais, notam-se dois esplêndidos quadros a óleo, representando-se, num a. aparição do anjo a São Pedro, quando estava no cárcere, e no outro São Jerónimo com o leão ao lado. Esta capela encerra o que há de melhor em quadros a óleo e são os únicos que têm o nome do seu autor, que foi Bento Coelho. Além destas capelas, temos ainda mais cinco, colocadas no cruzeiro da igreja. Em frente da ante-sacristia encontra-se a da Assunção de Nossa Senhora,
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onde existe um bonito sepulcro contendo a imagem da Senhora da Boa Morte, já de grande devoção no tempo dos jesuítas. Contígua a esta, está a capela de Nossa Senhora da Consolação, pouco funda e toda doirada, e que é destinada para depósito do Sacrário com o Santíssimo Sacramento nos dias de festividade. Em seguida temos, na base da coluna que sustenta o arco da capela-mor, uma outra capela pequena, voltada para o corpo da igreja, consagrada à Senhora do Socorro, onde se vê uma pequena imagem de jaspe, desta Senhora, tendo o retábulo pequenos nichos com várias relíquias. Do lado do evangelho, e simetricamente disposta em relação à antecedente, está uma capela com uma das melhores imagens de Jesus Crucificado, que se encontra em toda a ilha e que se pode considerar como um verdadeiro modelo de escultura. Finalmente, contígua a esta pequena capela, e próximo da ante-sacristia, está uma outra capela que é de São Pedro e São Paulo. Os arcos destas últimas quatro capelas, bem como o da capela-mor, as colunas que o sustentam e a cimalha de todo este lado da igreja, apresentam um género especial de doiradura — a doiradura em pedra — um primoroso trabalho, que, segundo Vilhena Barbosa,3 só existe em mais duas igrejas de Portugal. É digno de se ver o rico santuário que esta igreja possui e que aparece na procissão do Triunfo, estando durante o ano convenientemente guardado em armários, na parte posterior da igreja. Igreja de São Francisco, ou de Nossa Senhora da Guia Tendo vindo para esta ilha os primeiros franciscanos em 1456, pouco mais ou menos, trataram logo de edificar um convento com a sua competente igreja, no terreno onde hoje está o Seminário e a igreja de São Francisco. Em 1663, os religiosos franciscanos, tendo à sua frente Fr. Francisco da Conceição Naranjo, conseguiram alcançar fundos, mais que suficientes, para se reparar e dar uma nova forma ao convento que já existia, bem como à sua igreja e em 1666, achando-se já prontos os dormitórios e oficinas do novo convento, que ficou maior, deu-se princípio à construção da igreja, sendo lançada a primeira pedra nos alicerces abertos no ângulo esquerdo do adro, no dia 6 de março daquele ano, com grande pompa e aparato, a que assistiram todas as dignidades eclesiásticas e autoridades civis. A pedra que se achava talhada em esquadria, tinha no meio o santíssimo nome de Jesus, e depois de benta pelo mestre escola da Sé, João Dinis Pereira, provisor do bispado, foi colocada no fundo dos alicerces, que foram depois bentos pelo mesmo sacerdote. No dia 1.° de outubro de 1672, estavam concluídas as obras, procedendo-se
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nesse mesmo dia à bênção da igreja, que foi feita pelo Bispo D. Fr. Lourenço de Castro, depois de uma solene procissão a que concorreram o cabido, a Câmara, todo o clero regular e secular, confrarias e grande concurso de povo. Neste mesmo dia ficou depositado na igreja o Santíssimo Sacramento que esteve exposto durante três dias, celebrando-se no dia seguinte a primeira missa, fazendo pontifical o mesmo Bispo.
A sua arquitetura exterior é antiga e nada tem de notável, e o seu interior é amplo, e acha-se dividido em três naves por duas ordens de arcadas de estilo romano. A sua configuração é a de uma cruz, cujo topo forma a capela-mor, bastante espaçosa e iluminada. O orago da igreja é Nossa Senhora da Guia, cuja imagem se observa na frente do magnífico camarim, que encerra o trono para a exposição do Sacramento. Do lado do evangelho, está entre as colunas do magnífico retábulo, a imagem de São Domingos de Gusmão, e do lado da epístola a de São Francisco de Assis. No corpo da igreja, encontram-se as seguintes capelas do lado do evangelho: — a do Sagrado Coração do Jesus, que antigamente se denominava o altar dos anjos; — a de São Luís Gonzaga, tendo ao meio a imagem deste santo, do lado do evangelho a de Santa Ana, e do lado da epístola a de São Joaquim; — o altar das Almas, onde está a imagem do Senhor Jesus, tendo do lado do evangelho a imagem de São Pedro Regalado, e do lado da epístola a de um Bispo santo, cujo nome ignoramos; — finalmente, a capela de Santo Antão, antigo altar de Nossa Senhora da Conceição. Do lado da epístola estão as seguintes capelas: —a da Ordem Terceira, em cujo camarim está a imagem do Senhor Preso à Coluna, tendo do lado do evangelho a de Santa Isabel, Rainha de Portugal, e do lado da epístola, a de São Luís, Rei de França; — a capela de Nossa Senhora dos Anjos, tendo também mais abaixo a imagem de São José; — a de Nossa Senhora das Dores, antiga capela de São Tomás de Vila Nova, tendo do lado do evangelho, a imagem de São Vicente Ferreira, e da epístola a de São Bernardo; — finalmente, a antiga capela da Senhora do Rosário, feita por Fr. Tomás do Rosário, onde hoje estão as imagens de São Pedro de Alcântara, tendo do lado do evangelho São Simão de Roches, e da epístola São Nicolau. Sobre o pórtico eleva-se o magnífico coro do convento, que comunica com o coreto de música, onde está um belo órgão antigo. Contígua à capela da Ordem Terceira está a sua sacristia, e por cima a sala do consistório ou das sessões da respetiva mesa.
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No cruzeiro da igreja e do lado do evangelho está a entrada para a grande sacristia, tendo ao lado uma lápide com a seguinte inscrição: «À MEMORIA DO IRMAM DE VASCO DA GAMA O ILUSTRE CAPITAO PAULO DA GAMA SEPULTADO NESTE CONVENTO ANNO — 1499 ERIGIO-LHE ESTA LAPIDE O GOVERNADOR CIVIL A. J. V. SANTA RITA EM JANEIRO — 28 — 1849». Na capela-mor da igreja, além da sepultura de Paulo da Gama, estão também as do primeiro capitão do donatário João Vaz Corte Real e da Condessa de Almada. A sacristia é ampla e sumptuosa, onde se encontram lindos e delicados lavores e folhagens em relevo que formam o teto. Igreja da Misericórdia Este templo é o mais moderno da cidade. A sua construção teve começo em 1728, sendo lançada a primeira pedra dos seus alicerces em 21 de outubro daquele ano pelo Bispo D. Manuel Álvares da Costa, e benta em 4 de junho de 1746 pelo vigário geral Manuel dos Santos Rolim. Está esta igreja situada em frente ao Largo Três de Março, e na confluência das Ruas Direita e de Santo Espírito. O seu pórtico é acanhado e desproporcionado com a grandeza do templo, notando-se também a pouca altura dada ao frontão que termina a sua fachada: de cada lado deste elevam-se duas pequenas torres quadriláteras, para sinos, terminando, cada uma delas, num pequeno zimbório de pedra. Por cima do pórtico, estão as armas reais, e a meio do frontão nota-se um pequeno nicho de pedra que parece ter sido para alguma imagem, e por último uma pequena abertura circular que poderia servir para um relógio, tendo como remate uma pequena sineira que suporta uma cruz de ferro. Penetrando no interior deste templo, que é de uma só nave, encontra-se
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ao fundo a capela-mor, bastante espaçosa e semelhante à da igreja de São Francisco. Nesta capela está unicamente o Sacramento, e no corpo da igreja, estão três capelas de cada lado, abertas nas paredes laterais, correndo por cima delas uma galeria com varandas sobre o interior do templo. Do lado do evangelho temos as capelas: — do Espírito Santo — de Nossa Senhora da Natividade; — da Santa Cruz. Do lado da epístola: — a do Senhor Santo Cristo da Misericórdia; — da Divina Pastora; — do Senhor Jesus das Chagas. Sobre o para-vento da igreja está um largo coro alto com órgão próprio. Entre as imagens que se encontram nesta igreja, torna-se digna de menção a do Senhor Santo Cristo, padroeiro da cidade, não só pela escultura, como pela grande veneração que por ele tem o povo terceirense. Existiu também nesta igreja a Ordem de Nossa Senhora do Carmo com a sua Veneranda Imagem em virtude do contrato feito em 22 de fevereiro de 1766 com a Mesa da Misericórdia; e a 17 de março de 1804 foi transferida para a igreja do Colégio,4 obtendo para isso, despacho da Junta de Fazenda, o general Conde de Almada, datado de 12 do dito mês, e concessão do Bispo D. José Pegado de Azevedo. Por detrás da capela-mor eleva-se a grande sala destinada para as sessões da Mesa da Misericórdia. Igreja de São Gonçalo A sua construção data da mesma época da fundação do convento, ao qual servia de capela. Conquanto não seja de grandes dimensões, e exteriormente não apresente nada de notável na sua arquitetura, é contudo um bom templo de uma só nave, onde se nota nas suas paredes laterais, um bom trabalho de mosaico, talvez o melhor de toda a ilha, representando várias passagens da Escritura, tais como o sonho do faraó e a venda de José do Egipto. A capela-mor é regular, com um vasto camarim onde, se expõe o Sacramento nos dias de festividade. Nesta capela existe o Sacrário, um bom quadro do Sagrado Coração de Jesus, tendo de cada lado as imagens de São Gonçalo e de São Francisco. Do lado do evangelho está o altar de Nossa Senhora da Conceição, onde se encontram também as imagens pequenas de Santa Ana, São José, Menino Jesus e Santa Filomena.
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Do lado da epístola está um outro altar com uma bela imagem do Divino Imperador, e aos lados as imagens de Santo Ana, Santa Clara, São João Baptista e São Mateus. A imagem do Divino Imperador, que é de grande devoção, existia antigamente num altar próprio no coro alto do convento, de onde saía para o altar-mor no dia da sua festa. Nesta igreja existe também um bom órgão que estava também no coro alto e que, há poucos anos, foi colocado no interior da igreja em coreto próprio, pertencente à igreja da Conceição. Igreja da Conceição É das igrejas paroquiais da cidade, a mais antiga depois da Sé Catedral. Ignora-se a data da sua construção, e o único documento antigo que existe sobre esta igreja, é o alvará de 26 de março de 1533, de El-Rei D. João III, ordenando ao Bispo D. Jorge de Santiago, que erigisse em paróquia, a ermida de Nossa Senhora da Conceição, que já existia quando Angra era vila. A arquitetura exterior deste templo nada tem de especial, e o seu interior bastante amplo e desafogado, faz lembrar a igreja Catedral de Angra. Está, como esta, dividida em três naves, e o teto que foi ultimamente reconstruido por ameaçar ruína, acha-se sustentado por quatro colunas de pedra, de cada lado, e de forma retangular. A entrada é resguardada por um para-vento por cima do qual está um largo coro alto, onde se vê um pequeno órgão que pertencia ao extinto convento das religiosas da Luz, da Praia da Vitória. À esquerda da porta de entrada, está o baptistério, cujo pavimento é coberto de mosaico, e tendo por cima da pia baptismal, um quadro a óleo, representando o Baptismo de Cristo. A capela-mor é uma das mais ricas da ilha, pelos retábulos que contem, a maior parte dos quais, têm realmente valor artístico. Sobre o arco desta capela estão as armas portuguesas, e o teto é todo coberto por quadros a óleo, em que se representa várias passagens da Escritura, que têm relação com os mistérios de Nossa Senhora. Nas paredes laterais, entre os quadros que representam a morte de Nossa Senhora, São José e São João Baptista, distinguem-se dois grandes painéis, ocupando quase todo o comprimento da capela e que representam, de um lado o nascimento de Cristo, e do outro a Epifania. Ao fundo está um lindo retábulo de madeira todo doirado, em que se admira o bom e bem acabado trabalho de talha. Na frente do camarim que serve para a exposição do Sacramento, está uma linda imagem de Nossa
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Senhora da Conceição, e aos lados, entre as colunatas do retábulo, as imagens de São Francisco de Borja e de São Francisco de Paula. Nesta capela ainda existem as cadeiras dos beneficiados, que eram em número de onze, incluindo o coadjutor da igreja, e que constituíam a nobre Colegiada da Conceição dos Clérigos, como lhe chamou o Padre Cordeiro, na sua História Insulana. No corpo da igreja, e do lado do evangelho, encontram-se três capelas, que são: — a do Sacramento, vedada por uma bonita porta de madeira dourada, por cima da qual se vê um bom quadro a óleo representando a Ressurreição de Cristo. Esta capela é funda e espaçosa, sendo o retábulo doirado, e o teto apresenta elegantes molduras doiradas, bem como as paredes laterais; — a capela das Alma, onde está só um quadro a óleo; — a de Nossa Senhora dos Prazeres, onde se vê a imagem de São Sebastião, que era do extinto convento das religiosas Capuchas, e ao qual o Senado de Angra manda celebrar todos os anos a sua festa, em virtude de um voto feito por ocasião de uma epidemia de peste que fez numerosas vítimas em toda a ilha. Aos lados desta imagem, estão outras duas que são uma de São Domingos e outra de Santo António. Do outro lado da igreja, e simetricamente disposta em relação à do Sacramento, está uma capela funda com dois altares, um tendo a imagem do Senhor dos Aflitos e logo abaixo um quadro representando o Coração de Jesus; o outro, com a imagem de São João Baptista Machado, tendo aos lados as de Santa Rita e de São Vicente Ferrer. Em seguida a esta capela, encontra-se uma outra, de Santo André, onde está a imagem Santa Águeda que é substituída pela de São Francisco de Paula no dia da festa deste santo. Esta igreja possui duas sacristias: uma, do lado da epístola, que é a da igreja; e a outra do lado do evangelho, pertencente à confraria do Santíssimo. Por detrás da capela-mor está uma vasta sala, onde têm lugar as sessões da junta de paróquia. Igreja do Hospital de Santo Espírito Faz parte do edifício do Hospital, e é formada duma só nave. Era a igreja do antigo convento das religiosas da Conceição, e ali se encontram ainda no pavimento da igreja as lápides das sepulturas de algumas freiras. O orago da igreja é Nossa Senhora da Conceição, cuja imagem se acha colocada na capela-mor. Do lado do evangelho está um altar ou capela com a imagem de Nossa
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Senhora da Conceição, e do lado oposto um outro com a imagem de Santo António. O que tem de notável esta igreja é o teto onde se admira a pintura a óleo sobre madeira, já bastante alterada pelo tempo. Ao fundo da igreja está um amplo coro alto para onde vão assistir às cerimónias religiosas, os doentes e demais empregados do Hospital. Nas paredes laterais deste coro existem alguns quadros a óleo representando várias passagens da Conceição. Igreja do Livramento Junto ao edifício do Asilo de Infância Desvalida, está uma boa igreja do extinto convento dos Capuchos e que hoje serve de capela ao mesmo asilo. O exterior nada tem de notável pelo que diz respeito à arquitetura. Sobre a porta da entrada, vê-se uma larga janela pertencente ao coro, e por cima um pequeno nicho envidraçado, dentro do qual está uma imagem antiga de Santo António. O interior do templo é amplo, e ao fundo está a capela-mor bastante espaçosa onde se vê a imagem de Nossa Senhora dos Anjos, tendo de um lado a imagem de Santo António e do outro a de São Francisco de Assis. Do lado do evangelho, e no cruzeiro da igreja, estão duas capelas ou altares, tendo uma, a imagem de Nossa Senhora do Carmo e uma pequena imagem de São Roque; e a outra, a de Nossa Senhora das Angústias. Do lado da epístola está uma só capela com a imagem de Nossa Senhora do Livramento, de grande devoção entre o povo terceirense, e que por este motivo dá o nome à igreja. Nesta capela que foi fundada por André Coelho Martins Fagundes, existem também três pequenas imagens de São José, Santa Ana e São Joaquim. As paredes da capela-mor, bem como as que circundam os outros altares e o arco central, estão cobertas de azulejos, representando várias passagens da vida de Santo António. Por cima da porta principal, corre um largo coreto alto, onde as asiladas vão fazer as suas orações quotidianas, e onde estão quatro imagens que são: a de Nossa Senhora de Lourdes, Coração de Jesus, São José, e a do Menino Jesus. Igreja de Santa Luzia É também uma das igrejas mais antigas e está situada na parte mais alta da cidade. Primitivamente era uma ermida erecta por João Vaz Meireles e sua consorte Catarina Lourenço ; e só por alvará de 2 de fevereiro de 1585 é que foi elevada a paróquia.
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A sua arquitetura, além de ser antiga, é medíocre. É de uma só nave, e na capela-mor, encontra-se num camarim próprio a imagem de Nossa Senhora da Consolação, tendo de um lado a de Santa Luzia, orago da igreja, e do outro, a de Santo António. Descendo da capela-mor encontra-se, do lado do evangelho, a capela do Santíssimo, feita à custa de Baltazar Fernandes, que lhe legou parte dos seus bens; e a seguir, a capela de Nossa Senhora da Saúde. Do lado da epístola temos duas capelas: uma, com a imagem do Senhor Jesus da Boa Morte, e a outra com a do Senhor Jesus das Misericórdias. Sobre o pórtico da entrada está um pequeno coro alto com um harmonium. Igreja de São Pedro Está situado este templo quase no extremo oeste da rua de São Pedro, e a sua construção data de 1572, época da fundação da paróquia. A sua arquitetura nada tem de notável e as suas dimensões são exíguas para a população da freguesia. Tem interiormente, sobre o para-vento um largo coro alto, onde está um pequeno órgão que pertencia à Sé. Ao fundo do templo está a capela-mor, com a imagem de Nossa Senhora do Amparo, tendo do lado do evangelho, a de Santa Rita, e da epístola, a de São Nicolau. Saindo desta capela, encontra-se do lado do evangelho, a capela do Santíssimo Sacramento, e logo a seguir a de São Pedro, onde está uma boa imagem do Apóstolo. Do lado da epístola, há um só altar que tem ao centro a imagem do Senhor Jesus dos Milagres, logo abaixo um quadro com o Coração de Jesus, e do lado do evangelho, a imagem de Santo António, e da epístola, a de São Francisco de Paula. Entre as alfaias da igreja, nota-se como objeto de arte, digno de ser visto, uma píxide. A sacristia é ampla, mas nada tem digno de menção. Igreja de São João Baptista Vulgarmente conhecida pelo nome de igreja do Castelo, este templo acha-se situado na praça da fortaleza, em frente à porta principal de entrada. Quando em 1640 os castelhanos se renderam e entregaram o Castelo de São Filipe, viram os terceirenses que ali não havia igreja alguma; pelo que pediram a El-Rei que lhes fosse permitida a construção de uma com a invocação de São João Baptista, visto ser este o novo nome da fortaleza. Por Alvará do 1.° de abril de 1643, era permitida a construção da igreja que
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durou muitos anos, visto que, pelos documentos que ainda se encontram, o governador João Sequeira Varejão fez altos empenhos em 1656 para se concluírem as obras. A 23 de setembro de 1816 foi esta igreja destruída por um grande incêndio, ficando apenas as paredes; e assim permaneceu em abandono por muitos anos até que foi restaurada, sendo no 1.° de dezembro de 1867 restituída ao culto. Esta igreja tem sofrido por varias vezes alguns estragos, e há três ou quatro anos que foi novamente profanada. O frontispício da igreja é vistoso, apesar da pouca elegância e falta de estilo arquitetónico. O corpo do edifício é ladeado por duas torres com sineiras e tem na fachada principal duas ordens de janelas e por cima da porta principal as armas portuguesas. Possui também um relógio. O interior da igreja é simples e modesto, sendo o teto abobadado e assente sobre quatro colunas de pedra, duas de cada lado, formando três naves. Ao fundo está a capela-mor onde estava a imagem de São João Baptista, orago da igreja, e dos lados duas capelas ou altares, sendo do lado do evangelho, uma onde estava a imagem de Santa Bárbara, e do outro lado, uma outra onde estava a de Santa Catarina. Por cima da entrada corre um pequeno coro alto. Por debaixo da capela-mor existia uma casa subterrânea que serviu por muito tempo de jazigo dos governadores do Castelo, até que em abril 1871, sendo general da divisão militar que então existia nesta ilha, o falecido José Maria Gomes, foram as ossadas pomposa e solenemente transportadas para o Cemitério do Livramento, fazendo-se-lhes as respetivas honras fúnebres, correspondentes à patente dos extintos.
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