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Memorias de um Negro/3

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CAPITULO III

LUCTA PELA EDUCAÇÃO


Um dia, mourejando na mina de carvão, percebi a conversa de dois mineiros que discutiam a respeito duma grande escola para negros installada num ponto qualquer da Virginia. Até então, relativamente a casas de ensino, eu só tinha ouvido falar em coisas miudas como a que existia na cidade onde moravamos. No escuro, approximei-me dos dois homens. E soube que a escola grande funccionava unicamente para individuos da minha raça, que os estudantes pobres aprendiam lá um officio e podiam pagar com trabalho uma parte da pensão. Isso me pareceu a coisa melhor do mundo; o céo não devia ser mais attrahente que a escola normal e agricola de Hampton, assumpto da conversa dos mineiros.

Logo decidi entrar nesse estabelecimento, apesar de não saber onde elle ficava nem o que devia fazer para chegar lá. Sabia é que precisava ir a Hampton — e este pensamento me atormentou dia e noite.

Continuei a trabalhar no carvão. Passados alguns mezes, porém, ouvi referencia a um emprego em casa do general Luis Ruffner, proprietario do alto forno e da mina. A sra. Viola Ruffner, mulher do general, uma yankee do Vermont, tinha fama de ser dura demais com as pessoas que a serviam, especialmente com os homens. De ordinario ficavam em casa della duas ou tres semanas e sahiam todos contando a mesma historia: não aguentavam o rigor da generala. Apesar de prevenido, resolvi experimentar um serviço que não podia ser peor que a mina. Minha mãe deu os passos necessarios, e empreguei-me com salario bem modesto.

Tanto me impressionava a reputação da sra. Ruffner que tremi quando me achei na sua presença. Mas não tardei em comprehender o que ella desejava. Primeiramente exigia presteza e methodo, queria que tudo estivesse limpo; em segundo lugar não dispensava honestidade e franqueza. Nada de sujeira ou desleixo; as cercas e as portos deviam conservar-se em bom estado.

Antes de me dirigir a Hampton, fiquei uns dezoito mezes em casa do general — e as licções que ahi recebi foram tão proveitosas como as que me deram depois. Ainda hoje desejo apanhar os papeis velhos que encontro perto das casas ou na rua, varrer os pateos, fincar as estacas soltas das cercas, caiar e pintar os muros enxovalhados, chamar a attenção de alguem para a falta de botões num casaco, para manchas de gordura em roupa ou soalho.

O receio que a sra. Ruffner me inspirava transformou-se em confiança, e afinal considerei-a uma das minhas melhores amigas. Quando percebeu que podia fiar-se em mim, foi uma excellente pessoa. Nos dois invernos que passei em casa della obtive permissão para ir á escola uma hora por dia, durante alguns mezes. Fiz, porém, a maior parte dos meus estudos á noite, sózinho ou auxiliado por mestres eventuaes. A sra. Ruffner interessou-se por mim e approvou, com bordade, os esforços que eu fazia para instruir-me. Em casa della organizei a minha primeira bibliotheca. Arranjei um caixão, tirei-lhe um dos lados, preguei umas taboas dentro e ahi reuni todos os livros que me cahiram nas mãos. Era minha bibliotheca.

Apesar dessas vantagens, não abandonei a idéa de entrar no instituto de Hampton. No outomno de 1872 resolvi esforçar-me para chegar lá, embora ignorasse a direcção que devia seguir e os gastos que a viagem acarretaria. Só minha mãe apoiava a minha ambição, e ella propria, coitada, andava inquieta, receava que me lançasse numa aventura perigosa. Em todo o caso concordou comigo. Meu padrasto e o resto da familia tinham consumido o pouco dinheiro que eu havia ganho, deixando-me apenas alguns dollars, insufficientes para roupas e outras despesas necessarias. Meu irmão João fez o que poude para ajudar-me e conseguiu pouco, naturalmente, pois ganhava na mina uma insignificancia e quasi tudo ia para o sustento da casa. O que mais me commoveu nesse projecto de viagem foi o interesse que me testemunharam muitos negros velhos. Tinham-se mortificado na escravidão, sem nunca imaginar que um dos seus sahiria de casa para estudar. E as offertas surgiram: moedas de cobre, nickel e prata, lenços.

Afinal veio o dia grande e parti para Hampton. Levava num pequeno sacco alguma roupa que tinha conseguido arranjar. Minha mãe estava de cama, bem doente, e a separação foi dolorosa: receei não tornar a vel-a. Comtudo a pobre mulher conservou a coragem até o fim.

Nesse tempo a Virginia e a Virginia Occidental não estavam ligadas por linha ferrea: fazia-se parte da viagem em trens, parte em diligencias. Entre Malden e Hampton ha umas cento e cincoenta leguas. E logo que me puz a caminho percebi, sem nenhuma sombra de duvida, que o dinheiro se acabaria depressa.

Não esquecerei nunca uma das minhas primeiras decepções. Tinha andado muitas horas na montanha, numa velha diligencia, que á noite parou diante duma casa suja, de apparencia modesta, a que davam o nome de hotel. Todos os viajantes, menos eu, eram brancos. Ignorante, suppuz que o hotel estivesse ali para acolher os passageiros cançados: não me occorreu que a côr da pelle tivesse qualquer coisa com isso. Quando todos os viajantes se accommodaram e se dispuzeram a cear, apresentei-me timidamente ao homem do escriptorio. Realmente não possuia com que pagar casa e comida, mas esperava merecer a benevolencia do proprietario, pois não tinha onde abrigar-me e as montanhas da Virginia eram frias. Sem me falar em pagamento, o homem recusou-se a tomar o meu pedido em consideração. E comprehendi o que significava a côr da minha pelle. Apesar de tudo consegui aquecer-me andando nos arredores, onde passei a noite. Tão preoccupado me achava com a idéa de alcançar Hampton que nem tive tempo de pensar no hoteleiro.

Finalmente, viajando a pé, em carruagem e em trens, cheguei á cidade de Richmond, na Virginia, pouco mais ou menos a trinta leguas de Hampton. Era alta noite — e sentia-me estafado, esfomeado, sujo. Nunca vira uma cidade grande, e isto me perturbava em demasia. Não tinha um vintem no bolso, um conhecido no lugar, e ignorando os costumes, andava á toa, sem saber para onde ir. Dirigi-me a varias casas, pedindo hospedagem, mas os donos exigiam dinheiro, e era exactamente o que me faltava. {{nop]] Nada tendo que fazer, passeei nas ruas, observei numerosas exposições de comidas onde havia frangos assados e tortas de maçãs em fórma de meia-lua, coisas que me enchiam a boca d´agua. A tentação era tão grande que eu trocaria os sonhos do futuro por uma coxa de frango ou uma torta. Nem frango nem torta, absolutamente nada para comer.

Caminhei até depois de meia-noite. Por fim não pude mais avançar. Estava morto de fome e cançaço, mas a coragem não me abandonava. Detive-me num canto de rua, junto a uma calçada muito alta, convenci-me de que ninguem me via e arreei, estirei-me no chão, o sacco de roupa servindo-me de travesseiro. Durante a noite ouvi sempre rumor de passos por cima da minha cabeça.

Levantei-me no dia seguinte um pouco melhor, mas a fome era horrivel. Quando a manhã clareou e distingui as coisas em redor, notei que me achava perto dum grande navio donde se descarregava ferro fundido. Apresentei-me ao capitão, pedi-lhe que me deixasse trabalhar na descarga para obter almoço. O capitão, um branco, tinha bom coração e acceitou-me. Trabalhei muitas horas — e a refeição que tomei depois foi a melhor da minha vida. Ficaram satisfeitos commigo e convidaram-me para continuar na descarga com salario pequeno. Fiquei ali varios dias. Pago o alimento, não sobrava muito para a somma necessaria á viagem. Desejando chegar logo ao meu destino, economizei quanto pude. E continuei a dormir na calçada.

Muitos annos mais tarde, os negros de Richmond offereceram-me uma demonstração de amizade. Essa manifestação, em que tomaram parte umas duas mil pessoas, realizou-se perto do lugar onde me alojei — e, devo confessal-o, o meu pensamento fugia da cerimonia cordial, dirigia-se á calçada que me havia abrigado a miseria.

Feitas as economias indispensaveis, agradeci ao capitão do navio e puz-me de novo a caminho. Cheguei a Hampton com alguns nickeis no bolso para começar a minha educação. A viagem longa tinha sido penosa, mas a grande casa de tres andares compensou o que eu havia padecido para vel-a. Se as pessoas que deram dinheiro para levantar aquelle edificio soubessem a impressão que elle produziu em milhares de rapazes como eu, certamente se animariam a recomeçar a sua liberalidade. Era o predio mais bello e mais alto que eu tinha visto. Maravilhei-me olhando-o, senti que uma nova existencia ia abrir-se para mim, que a minha vida ia transformar-se completamente. Resolvi não me deter diante de nenhum obstaculo.

Transpuz os portões do estabelecimento, apresentei-me a uma funccionaria e pedi-lhe que designasse a minha classe. Como tinha estado longo tempo sem alimentar-me direito, sem me lavar e sem mudar de roupa, o exterior não me favorecia — e percebi que a mulher hesitava em receber-me. Afinal eu não tinha o direito de queixar-me se me tomavam por mendigo ou vagabundo. Durante algum tempo fiquei ali rondando, procurando a melhor fórma de mostrar que, apesar de tudo, era digno de interesse. Emquanto esperei, vi diversos rapazes serem admittidos, e isto me embaraçou enormemente, pois me sentia capaz de fazer tanto como os outros, se me dessem opportunidade. Ao cabo de algumas horas a mulher me disse:

— E´ preciso varrer a sala aqui ao lado. Tome esta vassoura e despache-se.

Comprehendi immediatamente que me havia chegado occasião de exhibir os meus prestimos. Nunca uma ordem foi executada com tanto zelo. Eu sabia varrer: graças á sra. Ruffner, servia-me proficientemente da vassoura. Varri a sala tres vezes, tomei depois um molambo, esfreguei-a quatro vezes. Rodapés, mesas, carteiras, bancos, foram esfregados e reesfregados. Alem disso desloquei os moveis, limpei os cantos, as bandeiras das portas e das janellas. Parecia-me que, em grande parte, o meu futuro dependia da impressão que a limpeza produzisse no espirito da mulher. Concluido o trabalho, fui ter com ella. Era yankee e sabia descobrir poeira. Andou pela sala, examinou o soalho e as bandeiras, em seguida tomou o lenço e passou-o nos rodapés, nas paredes, nas mesas e nos bancos. Findou a inspecção e disse calmamente:

— Acho que podemos acceital-o nesta casa.

Considerei-me um dos viventes mais felizes da terra. Meu exame de admissão no collegio consistiu num exercicio de varredela — e nunca estudante de universidade, Harvard ou Yale, teve provas que lhe dessem tanto prazer. Submetti-me depois a numerosos exames, mas aquelle foi o melhor de todos.

Eis ahi o que supportei para entrar no instituto. Difficuldades terriveis. Comtudo centenas de moços, desejosos de instruir-se por qualquer preço, chegavam nesse tempo a Hampton e a outros estabelecimentos depois de viagens semelhantes á minha.

O exame de vassoura aplanou-me o caminho do estudo. Miss Mary F. Mackie, inspectora geral, offereceu-me um lugar de criado, que acceitei com enthusiasmo, porque assim poderia pagar a minha pensão. Trabalho duro, mas perseverei nelle. Devia occupar-me com um grande numero de quartos, ficava accordado até alta noite, erguiame ás quatro horas da manhã para accender os fogos e, no meio de tudo, precisava dispor duns minutos para lançar os olhos ás licções. Enquanto vivi em Hampton e depois que de lá sahi, miss Mary F. Mackie conservou-se minha amiga fiel e preciosa: os seus conselhos me deram animo, sustentaram-me nas horas mais tristes.

Referi-me á impressão que o aspecto geral do instituto de Hampton produziu em min. O que, porém, mais me preoccupou ahi foi um homem, o ser mais nobre que já vi: o general Samuel C. Armstrong. Tive a honra de conhecer pessoalmente muitos grandes caracteres, na Europa e na America, e sem hesitação declaro que não encontrei ninguem como o general Armstrong. Eu vinha da escravidão e da mina, estava cheio de influencias ruins, sentia-me degradado — e para mim era privilegio enorme a vizinhança do general. Logo o achei perfeito, junto delle eu pensava em qualquer coisa sobrehumana. Encontrei-o no dia da minha chegada. E desde então até a morte delle nunca esse homem deixou de crescer aos meus olhos. Tirassem de Hampton as aulas, os professores, tudo quanto ali se ensinava, e deixassem aos alumnos o direito de ouvir o general Armstrong — elles obteriam uma educação liberal. Quanto mais envelheço mais me convenço de que nenhuma educação adquirida em livros e nos mais luxuosos laboratorios iguala a que nos proporciona o contacto dos grandes homens e das grandes mulheres. Em vez de estudarmos constantemente em livros, acho que seria melhor estudarmos os homens e as coisas.

No fim da vida, o general Armstrong passou dois mezes na minha casa de Tuskegee. Estava paralytico: mal podia mexer-se e tinha perdido a fala quasi completamente. Enfermo assim, trabalhava sem descanço, noite e dia, pela causa a que se havia dedicado. Negligenciava os seus interesses, creio que nunca teve um pensamento egoista. Com o mesmo enthusiasmo, trabalhava em Hampton e auxiliava estabelecimentos do Sul. Tinha-se batido contra os sulistas na guerra civil, e entretanto nunca o ouvi dizer sobre elles uma palavra amarga; longe disto: esforçava-se por achar meio de servil-os.

Ninguem imagina cá fóra a auctoridade que o general exercia sobre os estudantes, a confiança que inspirava. Adoravam-no. Difficilmente poderiamos suppor que elle se mettesse numa empresa e falhasse, que pedisse qualquer coisa e os outros não corressem para attendel-o. Quando estava em minha casa, no Alabama, doente que mal se afastava da cadeira de rodas, um dos seus antigos alumnos julgou-se feliz conduzindo-o, com enorme esforço, até o cume duma collina ingreme. Chegando lá em cima, esse homem exclamou, cheio de alegria:

— Que felicidade! Emfim pude fazer alguma coisa pelo general.

Emquanto vivi em Hampton, os dormitorios se encheram a ponto de se tornar difficil conseguir lugar para os que desejavam ser admittidos. O general teve então a idéa de construir tendas que deviam servir de quartos de dormir e deu a entender que ficaria satisfeito se alguns dos antigos fossem passar nellas os mezes de inverno. Quasi todos se offereceram. Fui com elles. O inverno que aguentámos nas tendas, terrivelmente frio, nos incommodou em excesso, mas o general nada percebeu, porque ninguem se queixou. Ficavamos contentes sabendo que aquillo era do seu agrado e que facilitavamos a educação dum grande numero de pessoas. As vezes, alta noite, uma rajada soprava forte, a tenda ia pelos ares e ficavamos ao relento. O general tinha o costume de visitar-nos pela manhã — e a sua voz grave e alegre nos dava coragem, fazia tudo esquecermos.

Falei até agora do general Armstrong. Entretanto elle não era unico: pertencia a um exercito de christãos, homens e mulheres que, no fim da guerra, se tinham devotado ao melhoramento dos pretos. Seria difficil achar na historia do mundo pessoas de coração mais elevado e generoso que as que trabalhavam nas escolas negras.

A vida em Hampton era uma surpresa constante para mim, sentia-me transportado a um mundo novo. Comer num prato a horas certas, em mesa com toalha, tomar banho, usar escova de dentes, dormir em cobertores, tudo era novidade. Desses habitos novos o mais precioso que adquiri em Hampton foi o banho, que me pareceu bom como hygiene e bom para fazer o individuo respeitar-se. Nas minhas viagens, depois que deixei a escola, procurei sempre o meu banho diario, ás vezes difficil de obter, sobretudo em casas de negros. Em difficuldades semelhantes, appellei para o riacho da floresta. Nunca me cancei de recommendar aos pretos a installação de banheiros.

Quando entrei no collegio, possuia um par de meias. Lavava-as á noite, pendurava-as junto do fogo e calçava-as pela manhã. De pensão devia pagar dez dollars por mez, parte em dinheiro, parte em trabalho. Ao chegar, dispunha de alguns tostões. Com isso e com os raros dollars que meu irmão conseguia mandar-me, de longe em longe, o pagamento era difficil. Resolvi, pois, tornar-me indispensavel como criado. Sahi-me bem: logo me communicaram que me davam a pensão toda pelo trabalho. Restavam as despesas de estudo, e estas montavam a setenta dollars por anno, somma inattingivel para mim, evidentemente. Sem poder arranjar essa dinheirama toda, ser-me-ia preciso deixar Hampton. Foi o general Armstrong que me salvou: por instancia delle, um dos seus amigos, o sr. S. Griffith Morgan, de New-Bedford, no Massachusetts, consentiu em pagar-me os estudos emquanto eu permanecesse em Hampton. Tive o prazer de conhecel-o e visital-o mais tarde, quando principiei o meu trabalho em Tuskegee.

Outra difficuldade era conseguir livros e roupa. Obtive os livros por emprestimo, de collegas menos pobres que eu. Quanto a roupa só existia a que tinha vindo na pequena mochila de viagem. Isto me inquietava bastante, pois o general revistava os rapazes para certificar-se de que elles estavam asseados. Era preciso engraxar os sapatos, pregar os botões que se soltavam, não deixar uma nodoa. Ora vestir uma roupa só na cozinha e na classe, conservando-a limpa, é coisa bem difficil. Emfim arranjei-me como pude, até que os professores notaram que eu desejava ir para diante e offereceram-me roupas usadas, que vinham do Norte, destinadas aos estudantes pobres e de algum merecimento. Essas dadivas eram uma fortuna para centenas de rapazes; sem ellas, pergunto a mim mesmo se teria podido continuar os meus estudos.

Eu nunca havia dormido em lençoes. Quando cheguei a Hampton, o estabelecimento se compunha de algumas construcções, onde os alumnos se apertavam. No quarto que me deram havia mais sete pessoas, quasi todas chegadas antes de mim. Os lençoes me atrapalharam. Na primeira noite deitei-me em baixo delles; na segunda noite deitei-me em cima; na terceira observei os meus companheiros, aprendi a maneira de usar os lençoes, tratei de habituar-me e fiz o que pude para transmittir a outros a minha experiencia.

Eu era dos estudantes mais novos. A maior parte se compunha de gente madura, homens feitos e mulheres, alguns de quarenta annos. Acho que poucos individuos terão tido opportunidade de viver no meio de trezentas ou quatrocentas pessoas animadas de enthusiasmo semelhante. Estudavam e trabalhavam o dia inteiro, todos conheciam o mundo e avaliavam a necessidade da instrucção. Alguns, muito velhos para entrar seriamente nos manuaes, faziam esforços terriveis, suppriam pela tenacidade o que lhes faltava em viveza de espirito. Muitos, arrastados como eu, desembrulhando o que havia nos livros, affligiam-se com privações de todo o genero. Varios tinham parentes idosos que dependiam delles. Havia tambem homens casados, e esses precisavam fazer milagre para sustentar as mulheres.

A ambição de todos era o aperfeiçoamento da raça, ninguem pensava em si mesmo. E os mestres, os melhores do mundo, trabalhavam sem cessar. No dia em que se souber o que os professores yankees fizeram pela educação dos negros depois da guerra, um capitulo novo, impressionante, surgirá na historia deste paiz. Esse dia não está longe. E então o Sul comprehenderá o que até hoje tem ignorado.

Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.