Miserrimus (Luís Delfino)

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Quem no tempo, que enverga as asas, não procura
Trabalho, que enaltece a alma humana e avigora,
Não acha, como achei, na terra essa ventura,
Que é meu crime, e só tu, e mais ninguém deplora.

Dizes que sou feliz, e irrita-te e apavora
Do pó teu ver-me em pé numa nuvem da altura,
Sem te lembrar que já nuns dias de amargura,
Ao dorso ergui-te, anão, como o faria agora.
 
Não tens tido esse orgulho indômito de moço,
Que não pára, inda mesmo uma batalha ganha,
Cuja existência é toda ânsia, audácia, alvoroço:
 
Teu ódio eterno em vão de rastos me acompanha:
Serei eu, por acaso, aí qualquer colosso?
Terei o aspecto assim, que impõe, duma montanha?!