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Deve ser muito agradável um cidadão não se meter em política; por isso eu pasmei quando soube que Carlos Maul estava metido nesse embrulho do Estado do Rio.

Para um poeta, para um artista, um homem de sonho, como é Maul, andar nessas atrapalhações tão baixas, tão vis, tão indecentes de negócios políticos, em que os textos mais claros são truncados, as verdades mais evidentes são nega­das, não deve ser fonte de êxtase e emoção poética.

Imagino bem que Maul não tomou este ou aquele partido para ganhar sensações, para acumular impressões, no intuito de criar mais um poema que viesse figurar ao lado dos que já tem composto para exaltação de todos nós.

Sei bem que tem havido muitos artistas políticos, mas quando se fazem ministros, deputados, deixam de ser artistas ou, se continuam a sê-lo, são medíocres homens de Estado.

Chateaubriand tinha a mania de rivalizar com Napoleão como homem de Estado; a verdade, porém, é que de Cha­teaubriand só se sabe geralmente que escreveu Atala, René e outros livros magníficos.

A política, diz lá o Bossuet, tem por fim fazer os povos felizes. Terá Maul esse propósito?

Creio que não. Maul é moço, ilustrado, fez leituras avançadas, meditou e não há de acreditar que as mezinhas do governo curem mal de que sofre a nossa pobre humanidade.

O governo já deu o que tinha de dar; agora, é um agonizante, breve um cadáver a enterrar no panteão das nossas concepções.

Não direi que quem não acredita no Estado seja desonesto quando se propõe a tomar parte nas suas altas funções.

Não digo, porque sei de excelentes sacerdotes que continuam a cultuar os seus deuses, depois de perderem a fé neles. É que precisamos viver; e é difícil mudar de pro­fissão de uma hora para outra.

Essa incursão de Maul na política não será duradoura e não ficaremos, certamente, privados do poeta, do magnífico poeta do Canto primaveril,para termos mais um energúmeno eleitoral das mesas do Jeremias.

Correio da Noite, Rio, 28-1-1915.