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Número, faz favor?

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O Altino Praxedes andava já pelos trinta anos quando, casado, e com um filho, abandonou a sua fazenda das "Três Pedras", no Estado do Rio, para vir à capital da República submeter a esposa a uma operação. E como não tivesse parentes, nem amigos, nem conhecidos, foi hospedar-se, com a família, em uma pensão do Flamengo, onde lhe prometeram toda a comodidade.

Ocupado, ele mesmo, em arranjar médico e casa de Saúde, era-lhe um tormento aquela vida, acima e abaixo, numa terra desconhecida. De manhã, saía a tratar de negócio. Duas horas depois, porém, se achava outra vez em casa, a saber como estava passando a esposa. E tão inquieto andava longe da companheira, que a dona da pensão, penalizada, aconselhou:

— Sr. Praxedes, por quê o senhor, em vez de vir, não telefona para sua mulher? É mais rápido, e muito mais cômodo.

— É verdade, — concordou o hóspede, que nunca tinha falado, em sua vida, num telefone.

No dia seguinte, estava o provinciano no centro da cidade, quando se lembrou de telefonar para casa. O aparelho, e a utilidade de cada uma das peças, ele o conhecia, por ter visto outras pessoas falando. Nunca, porém, havia falado, ele próprio, de modo que foi trêmulo, quase vermelho, que pôs o fone no ouvido, pedindo:

— Ligue para minha mulher; sim?

— Número, faz favor?

Praxedes empalideceu:

— Qual número, qual nada, dona! Eu sou um homem sério. Eu só tenho uma mulher, e essa não tem numeração nenhuma!

E enganchando o fone, com estrondo:

— Trate sério; ouviu?