Na Vila
Nos ervaçais vibrou o sol agora,
Nas fitas verdes dos canaviais...
Como rompesse loura e fresca a aurora
Agora o sol vibrou nos ervaçais.
Murmurejam de alegres os caminhos
Que até parecem, límpidos, cantar
Na música melódica dos ninhos
Que vai nos ares se cristalizar.
Floresce tudo, em toda parte flores
Neste maio feliz, e tão feliz
Que as plantas exuberam de vigores
Desde a profunda, pródiga raiz.
Noivam as aves junto dos riachos
No seu alado alvorecer de amor;
E o coqueiral, com os amarelos cachos,
Pompeia de riquíssimo verdor.
Fluem na sombra meigas fontes claras
Sob o frondente e vasto laranjal
E para além magníficas searas
Se estendem como um leito virginal.
Na serena paz vegetativa
Faz docemente tudo adormecer
Mas num sono de luz doirada e viva,
Quase a dormência de quem vai morrer...
Ah! que o silêncio, a solidão dos ermos,
Das agrestes paragens do sertão
Se dão saúdes a espíritos enfermos
Também supremas nostalgias dão!
A volúpia letal do meio-dia,
Nas horas encalmadas, sob a luz,
Dá duma campa a atroz melancolia
Assinalada numa simples cruz.
Depois o campo na mudez da vila,
Aquela eterna e soberana paz
Da imensa vastidão sempre tranqüila
Como que punge e que entristece mais!