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Navios

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Praia clara, em faixa espelhada ao sol, de fina areia úmida e miúda de cômoro.

Brancuras de luz da manhã prateiam as águas quietas, e, à tarde, coloridos vivos de acaso as matizam de tintas rútilas, flavas, como uma palheta de íris.

Navios balanceados num ritmo leve flutuam nas vítreas ondas virgens, com o inefável aspecto nas longas viagens, dos climas consoladores e meigos, sob a candente chama dos trópicos ou sob a fulguração das neves do Pólo.

Alguns deles, na alegre perspectiva marinha, rizam matinalmente as velas e parte — mares afora — visões aquáticas de panos, mastros e vergas, sob o líquido trilho esmaltado das espumas, em busca, longe, de ignotos destinos.

Á tarde, no poente vermelho, flamante, dum rubro clarão d’incêndio, os navios ganham suntuosas decorações sobre as vagas.

O brilho sangrento do ocaso, reverberando na água, dá-lhes uma refulgência de fornalha acesa, de bronze inflamado, dentre cintilações de aço polido.

Os navios como que vivem, se espiritualizam nesta auréola, neste esplendor feérico de sangue luminoso que o ocaso derrama.

E mais decorativos são esses aspectos, mais novos e fantasiosos efeitos recebem as afinadas mastreações dos navios, donde parece fluir para o alto uma fluida e fina hormonia, quando, após o esmaecer da luz, a Via-Láctea resplende como um solto colar de diamantes e a Lua surge opaca, embaciada, num tom de marfim velho.