No cemitério de S. Benedito
Tambem do escravo a humilde sepultura
Um gemido merece de saudade:
Ah! caya sobre ella uma só lagrima
De gratidão ao menos.
(Dr. B. Guimaraens.)
Em lugubre recinto escuro e frio,
Onde reina o silencio aos mortos dado,
Entre quatro paredes descoradas,
Que o caprichoso luxo não adorna,
Jaz de terra coberto humano corpo,
Que escravo succumbiu, livre nascendo !
Das horridas cadeias desprendido,
Que só forjam sacrilegos tyrannos,
Dorme o somno feliz da eternidade.
Não cercam a morada luctuosa
Os salgueiros, os funebres cyprestes,
Nem lhe guarda os humbraes da sepultura
Pesada lage de espartano marmore,
Sómente levantando em quadro negro
Epitaphio se lê, que impõem silencio !
— Descançam n’este lar caliginoso
O misero captivo, o desgraçado !...
Aqui não vem rasteira a vil lisonja
Os feitos decantar da tyrannia,
Nem offuscando a luz da san verdade
Eleva o crime, perpetua a infamia.
Aqui não se ergue altar ou throno d’ouro
Ao torpe mercador de carne humana,
Aqui se curva o filho respeitoso
Ante a lousa materna, e o pranto em fio
Cahe-lhe dos olhos revelando mudo
A historia do passado. Aqui nas sombras
Da funda escuridão do horror eterno,
Dos braços de uma cruz pende o mysterio,
Faz-se o sceptro bordão, andrajo a tunica,
Mendigo o rei, o potentado escravo!