No faéton

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Na manhã fria, fresca de maio, por uma rua arreada, um noble esplendor de mulher iluminou-me e surpreendeu-me os olhos.

Numa elegância de pelúcias claras, o seu perfil delicado, um biscuit d’arte, surgiu em flor no faéton, alta a estatura, com a graça educada de amazona espiègle.

Nos amplos claros de aspecto arejado de gare, sob o espaço vibrante, sonoro como uma grande cúpula de cristal, o faéton girava, de manso, na doce flexão das rodas leves, como se girasse sobre macias relvas de veludo.

Os cavalos normandos, lustrosos no cetim do pêlo, davam a correção, o tom das carruagens de molas flexíveis, suaves, das envernizadas caleches aristocráticas de luxo, cujos claros e polidos metais dos eixos cintilam.

Com uma linha fidalga ela manobrava as rédeas, nuns volteios audazes e galantes, a mão fremente, agitada, convulsa pelo ferir matinal do frio no sangue novo de gazela, com a orgulhosa atitude das ecuyères.

Algumas atenções paravam diante desse feminil deslumbramento desabrochado ao sol em aromas e formosuras.

No ar nítido, azul, fino do dia, duma limpidez deliciosa, o seu esbelto porte nervoso vinha erecto, num alto-relevo, destacando forte no fundo luminoso, transparente da manhã, como que cortado, talhado numa lâmina de vidro.