Noivado (Casimiro de Abreu)
Filha do céu - oh flor das esperanças,
Eu sinto um mundo no bater do peito!
Quando a lua brilhar num céu sem nuvens
Desfolha rosas no virgíneo leito.
Nas horas do silêncio inda és mais bela!
Banhada do luar, num vago anseio,
Os negros olhos de volúpia mortos
Por sob a gaze te estremece o seio!
Vem! a noite é linda, o mar é calmo,
Dorme a floresta - meu amor só, vela;
Suspira a fonte e minha voz sentida
É doce e triste como as vozes dela.
Qual eco fraco de amorosa queixa
Perpassa a brisa na magnólia verde,
E o som magoado do tremer das folhas
Longe - bem longe - devagar se perde.
Que céu tão puro! que silêncio augusto!
Que aromas doces! que natura esta!
Cansada a terra adormeceu sorrindo
Bem como a virgem no cair da sesta!
Vem! tudo é tranqüilo, a terra dorme,
Bebe o sereno o lírio do valado...
- Sozinhos, sobre a relva da campina,
Que belo que será nosso noivado!
Tu dormirás ao som dos meus cantares
Oh! filha do sertão! sobre o meu peito.
O moço triste, o sonhador mancebo
Desfolha rosas no teu casto leito.
....- 1858.