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O "Magnificat"

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(Antônio Francesco Doni, escritor italiano do século XVI)

Havia na antiga Lombardia um sujeito de meia idade, que tomou para esposa uma jovem e linda rapariga. Após a cerimônia, conduziu-a ele, com todas as unções e electuários, à alcova nupcial.

O noivo não era, porém, mais, o esgrimista que havia sido. Por mais esforços que fizesse, não conseguia abater o adversário. As duas espadas valiam mais que o bastão. Joga daqui, joga dali, e nada de encontrar a carta de triunfo.

Sentindo a má posição em que se encontrava naquele momento, com a bolsa comprida, estirada, vazia de toda moeda, teve uma idéia: levantou-se no traje em que se achava, e abrindo a janela, começou a entoar, em altas vozes, e de um fôlego só, as santas palavras do "Magnificat".

Ao ouvir o canto religioso, a mulher ficou toda agitada, e as pessoas da casa, despertadas àquela hora, correram, aflitas, para o quarto dos noivos. Supunham que ele tivesse enlouquecido, e perguntaram-lhe:

— Que é isso, homem? Que quer dizer essa maluquice? Por que está cantando a esta hora?

— Isto vai mal, — respondeu "messer" Mazza (era esse o nome do sujeito) fazendo-se desentendido; — é que já é de madrugada e eu, até esta hora, nada consegui.

— E que quer dizer, no meio de tudo isso, o "Magnificat"?

— Eu fiz todo o possível — respondeu o velho, — para cumprir o meu dever. Pedi a quem devia que se pusesse de pé, tirando o seu chapéu em homenagem à noiva. Foi tudo debalde; então, lembrando-me que, nas novenas, sempre se canta o "Magnificat" e se toca o órgão, todo o mundo se levanta, me veio a idéia de recorrer a esse remédio, afim de obter o que ainda não consegui!

Toda a gente se pôs a rir e "messer" Mazza continuou a cantar, até de manhã...