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O Barão da Borracheira

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Quando pilho um d’esses nobres,
Bicos só d’aureo metal
Mas d'espirito tam pobres
Que não possuem real,
Não lhes sáio do costado,
—Sei que é trabalho baldado,
Porque a pelle dura tem;
Mas eu fico satisfeita,
Que o meu ferrão só respeita
A virtude, e mais ninguém!

(F. X. de Novaes.—A Vespa)



Na Capital do Imperio Brasileiro,
Conhecida pelo—Rio de Janeiro,
Onde a mania, grave enfermidade,
Já não é, como d’antes raridade;

E qualquer paspalhão endinheirado
De nobreza se faz empanturrado—
Em a rua, chamada, do Ouvidor,
Onde brilha a riqueza, o explendor,
A' porta de hum modista, de Paris,
Lindo carro parou—Numero—X—,
Conduzindo hum volume, na figura,
Que diziam, alguns, ser creatura,
Cujas fòrmas mui toscas e brutaes
Assemelham-n’a brutos animaes.
Mal que da sege salta a raridade
Retumba a mais profunda hilaridade.
Em massa corre o povo, apressuroso,
Para ver o volume monstruoso;
De espanto toda gente amotinada
Dizia ser cousa endiabrada!

Huns affirmam que o bruto é um camello,
Por trazer no costado cotovélo,
E’ asno, diz um outro, anda de tranco,
Apezar do focinho d’urso-branco!
Ser jumento aquelle outro declarava,
Porque longas orelhas abanava.
Recresce a confusão na intelligencia,
O bruto não conhecem d’excellencia.
Mandam vir do Livreiro Garnier,
Os volumes do Grande Couvier;
Buffon, Guliver, Plinio, Columella:
Moraes, Fonseca, Barros e Portella;
Volveram d’alto a baixo taes volumes,
Com olhos de luzentes vagalumes,
E d’esta nunca vista raridade
Não poderam notar a qualidade!

Vencido de roaz curiosidade
O povo percorreu toda cidade;
As caducas pharmacias, livrarias,
As boticas, e vans secretarias;

E já todas a fé perdido tinham.
Por verem que o brutal não descobriam,
Quando ideia feliz, e luminosa,
Na cachóla brilhou d’um Lampadoza;
Que excedendo em carreira os finos galgos,
Lá foi ter á Secreta dos fidalgos;
E dizem que encontrara registrado
O nome do collosso celebrado:
Era o grande Barão da borracheira,
Que seu titulo comprou na regia-feira!...