O Barão de Lavos/Prólogo da segunda edição
Prologo da segunda edição
Por tres modos differentes se póde manifestar e exercitar a actividade humana, objectiva e psychica. Dentro de tres formulas fundamentaes se encerra todo o campo de acção da nossa individualidade, do nosso ipseismo, do nosso modo de ser social e intimo. De tres sortes de faculdades, apenas, depende a solução do problema da nossa vida: — faculdades de sentimento, de pensamento e de acção.
Quando o valor de todas tres é egual, ou pelo menos equivalente, no modalismo organico de um individuo, este realiza o typo physiologico, banal, sem interesse para o meu ponto de vista. O predominio, porém, de qualquer d’essas faculdades, no doseamento d’um caracter, origina desequilibrios, aberrações e anormalismos pathologicos, os quaes fazem o objecto dos estudos d’esta minha série de romances.
O Barão de Lavos e o Livro de Alda pretendem ser a analyse de dois exemplares humanos tyrannisados pela diathese das faculdades affectivas, — o caso mais commum. Nos romances seguintes procurarei dar o traslado pittoresco de caracteres em que, ainda essa, e as duas outras ordens de faculdades predominem.
Eis em duas palavras a genese, o pensamento inicial da série dos meus romances sobre «Pathologia social.» Esta breve explicação-programma devia ter logo antecedido a primeira edição do Barão de Lavos. Não o fiz, para que m’o não lançassem á conta de prematuro pedantismo. Não quiz dar flanco aos meus amaveis confrades em letras, para averbarem um proposito, que era meditado e honesto, á conta de intempestivo fogacho de vaidade.
Agora, porém, o ruidoso exito alcançado por essa primeira edição impunha-me para com o publico o dever de encimar com esta rapida annotação a segunda.
O auctor.