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O Batalhão de São Paulo

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Os briosos soldados que voltam da luta são dignos do entusiasmo com que o povo os recebe.

Quando, em princípio de setembro, chegamos a Queimadas, eu já sabia que o batalhão paulista chegara a Canudos realizando uma marcha brilhante e rápida. Em Queimadas, a opinião unânime dos habitantes daquela cidade traduzia-se num elogio constante ao procedimento da força deste Estado durante o tempo em que ela ali esteve.

Nem uma vez discordante perturbava essa manifestação absolutamente sincera e franca, que ainda perdura e persistirá por muito tempo.

Em Monte Santo (enuncío um fato que me foi exposto pelas pessoas mais sérias da localidade) a população inteira ficou verdadeiramente surpreendida ante a entrada corretíssima de um batalhão, que acabava de realisar uma marcha de dezeseis léguas e ali chegava, em forma, numa ordem admirável, como se fôsse tranquilamente para uma simples revista.

Quando segui para Canudos com o heróico regimento do Pará, encontrei uma ala da nossa força já próximo não termo da viagem. Foi entre Sussuarana e Joá, na estrada do Calumbi, havia pouco descoberta pelo tenente-coronel Siqueira de Menezes, trabalho notável que contribuiu muitíssimo para apressar o termo da luta, porque estabeleceu mais rápidas e seguras comunicações com Monte Santo.

Lá estava a ala esquerda do batalhão paulista, dirigida pelo bravo e dedicado major José Pedro.A estrada do Calumbi, por onde os jagunços esperavam a expedição do general Arthur Oscar, ladeada em parte pelas montanhas do Calumbi e Cachamangó, crivada de trincheiras ásperas de mármore silicoso, tendo um trecho de três quilômetros dentro do valo profundo do rio Sargento, cortando talvez quinze vezes as barrancas abruptas do rio Crahyba, é de mais dificil travessia do que a do cambaio. Guardá-la e ocupá-la, pois, não era empresa de pouca monta, sobretudo antes do estabelecimento de um tráfego franco e continuo. Tanto isto é verdade que a ala do batalhão paulista foi depois substituída por uma brigada - a do coronel Gouveia.

Assim, ao chegar a Canudos, no dia 15 de setembro, eu louvava já a convicção de que os intrépidos soldados do sul proseguiam rectilineamente nas empresas rudes da guerra.

E, realmente, assim procederam sempre.

Expondo lealmente a verdade afirmando que o general em chefe repetidas vezes me manifestou, com a franqueza excepcional que o caracteriza, a confiança inteira, absoluta, que lhe inspirava o batalhão de S.Paulo:

- Cada vez me agrada mais esta sua gente...

Havia razões para isto. O batalhão era perfeito na disciplina. Cumpria as ordens que recebia, mas rigorosamente, estritamente, com uma precisão verdadeiramente militar, sem delas se arredar nem mesmo para se atirar à aventura mais tentadora e aparentemente da mais facil realização.

Teve poucos homens fora de combate; foi mesmo, talvez, o batalhão menos sacrificado de toda a campanha. Este fato, na aparência incompatível com os inegáveis serviços por ele prestados e cuja importância não se pode derimir, explica-se, de um lado, pelo tempo relativamente curto em que esteve no campo das operações e, de outro, por um acaso feliz, porque arriscadíssimas e sérias foram muitas vezes as posições que ocupou e não abandonou nunca.

O plano de ataque do memorável dia 1 de outubro demonstra-o. Apoiada pelo batalhão do Pará, a ala direita do batalhão paulista, sob o comando imediato do tenente-coronel Elesbão Reis, garantiu a poucos metros do centro agitado da luta, desdobrando-se na margem esquerda do Vasa-Barris, da igreja velha à nova, um extenso segmento da linha do cerco, enquanto a ala esquerda, dentro do arraial, no mais acesso do combate, compartia os trabalhos e perigos que rodeavam as forças assaltantes do exército, acompanhando-o dignamente na rara e notável subordinação ao dever e na extraordinária dedicação à República que ele sempre patenteou.

Isto é o depoimento simples e sincero de uma testemunha pouco afeiçoada à lisonja banal e inútil.

Mas, não era a primeira vez que os paulistas se aventuravam a arrancadas nos sertões.

O episódio trágico dos Palmares e a epopéia ainda não escrita dos Bandeirantes foram criados pela índole aventureira e lutadora dos sulistas ousados.

E o batalhão do S.Paulo, heróico e desassombrado no combate, fez reviver, por um momento, uma página da histria do presente, todo o vigor guerreiro e toda a índole varonil dos valentes caídos há dois séculos.