O Cego e o Paralítico
Foi uma infelicidade para a família inteira, aquele infortúnio que assaltou o Praxedes, aos dezoito anos de idade; uma nuvem foi, aos poucos, lhe descendo sobre os olhos, até que o pobre rapaz se viu, na flor da vida completamente cego.
Recolhido a uma casa de Saúde, foi-lhe fácil arranjar um amigo. A infelicidade é o verdadeiro esperanto da humanidade, e foi ela quem, aproximou de Praxedes o Antônio de Baros, que errava pelos salões do hospital, completamente paralítico, e apenas com o uso da língua, sobre uma pequena cadeira de rodas.
Tornados íntimos, o Praxedes, com o seu bom humor habitual, fazia o possível para distrair o companheiro. E um dia, propôs:
— Sabe de uma coisa, meu velho? Vamos casar?
— Com quem?
— Ora, com quem?... Com uma mulher, está bem visto.
— Com uma só... Então?
E alegre, com os seus olhos apagados:
— Você olha... e eu abraço!
Anos depois, ficaram bons, os dois. E fizeram o negócio.