O Filho

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Terno cinzento, chapéu de palha, botinas amarelas, bengala de castão de ouro debaixo do braço, vinha o Castro Rocha pela Avenida, entre a rua São José e a Sete de Setembro, quando viu caminhando em sentido contrário o Arnaldo Lamenha, que fora seu companheiro de turma na Politécnica. Vendo-se, embora raramente, ou exatamente por isso, haviam continuado amigos, muito camaradas, festejando-se com palavras amáveis toda a vez que se encontravam.

— Olá, Arnaldo velho, como vai essa mocidade? — saudou o Castro Rocha, abraçando-o com efusão.

O Lamenha retribui o gesto, sorriu com felicidade, e puxaram-se, ao mesmo tempo, e num mesmo movimento, para a margem do passeio, afim de não impedir a circulação.

— É verdade, — reatou o Rocha, batendo no ombro do amigo, — tenho uma novidade a participar-te: mais um filho!

— Tu?

— É verdade.

— Homem ou mulher?

— Homem; um rapagão que é uma beleza!

— Então, meus parabéns, meu velho, — saudou o Arnaldo, aplicando-lhe outro abraço.

E como se faltasse alguma coisa:

— E a senhora, como está?

— Minha mulher? — fez o Castro Rocha, fechando a cara; — minha mulher, por enquanto, vai bem.

E ao ouvido do outro, confidencial:

— Felizmente, ela ainda não sabe de nada... Deus me livre que ela saiba!...