O Fim do Mundo/XIX
Abracei-me desesparadamente com a corista : chamei-a pelo seu nome, ajuntando a este todos os epithetos ternos, amorosos e poeticos, de que se usa nas comedias ; beijei-a dez, cem, mil vezes, beijei-a tanto, e tanto, que por fim de contas a corista abre de novo os olhos, sorri... suspira... solta uma risadinha magana, e... levantando-se de repente, escapa dos meus braços, e deita a correr pelo salão fóra.
Estava visto que eu devia correr atraz d'ella : reuno todas as minhas forças, dou um arranco, e...
Acho-me no chão gemendo com uma horrível dôr nas costellas.
Reconheci que acabava de sahir do dominio de um sonho tão longo como penoso, que me fizera cahir da cama abaixo no momento em que ia correr atraz da corista.
E apezar da dôr que sinto nas costellas, dou graças a Deos ; porque hoje é o dia 13 de Junho, e não ha de acabar-se o mundo.
O Martinho.