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O Inglês Exigente

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Cachimbo no queixo forte, carão vermelho e queimado de sol, pequenos olhos muito azuis, trajando um terno de casimira cinzenta que parecia feito para o homem mais gordo da Inglaterra, Patrick Churchill enfiou, naquela tarde, pelo corredor da conhecida casa de encontros galantes, à Rua Riachuelo. Os seus sapatões 44, grandes como couraçados da real esquadra do Atlântico, abalaram o prédio todo, fazendo correr à porta do meio, enxugando as mãos no seu avental doméstico, a velha Guilhermina, rotunda e generosa proprietária daquele antro de amor.

— Ahn! Faça favor de entrar! — pediu a velha, num sorriso, reconhecendo naquele desconhecido um possível admirador das suas constituintes profissionais.

Chapéu de massa à cabeça, fumegando como um navio que queimasse carvão nacional, Patrick Churchill estacou na sala de jantar, olhando os móveis familiares: a mesa, as cadeiras, e, no armário fechado, os licores de cinco mil réis o cálice, para exploração oportuna dos freqüentadores da casa.

— Sente-se; faz favor! Pediu a Guilhermina, solícita.

— Prricada, senhorra! — fez Patrick.

— Vem ver as meninas... Já sei... Prefere uma pequena, loura, novinha... um "bijou"... não é?

— Nô, — respondeu, seco, o inglês; — mim já esteve pequena lourra; non gostarr.

— Quer, então, uma rapariga forte, grande, morena?

— Nô; mim já esteve raparriga morrena; non gostarr.

— Prefere uma mulata, artigo nacional?

— Mim já esteve mulata; non gostarr.

— Uma perta?

— Nô; mim já esteve prreta; non gostar.

Diante de tal exigência, a Guilhermina recolheu a sua dentadura postiça ao cofre da boca e, com a dentadura, o sorriso amável com que recolhera o recém-chegado.

— Nesse caso, que é que o senhor deseja? — inquiriu, afinal, a megera.

— Mim querr rapaz nova, sympathica, bonitinha...

— Cachorro!... — fez, entre dentes, a Guilhermina. — Cachorro!...

E resoluta, furiosa, os olhos faiscantes:

— Vou mandar chamar já um guarda civil!

E o ingl6es, com a mesma fleuma:

— Oh, nô; mim já esteve guarrda civil; non gostarr...