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O Momento Literário/XVI

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O Sr. Guimarães Passos é o conhecido poeta dos Versos de um Simples e das Horas Mortas. Ultimamente publicou um Dicionário de Rimas. Alagoano, Alagoas tem por ele a mais profunda admiração. Há na terra do marechal Floriano centros literários, clubes de propaganda, o diabo, com o nome de Guimarães Passos. Cremos mesmo que se fundou agora, na capital do Estado, uma sociedade recreativa Homenagem a Guimarães Passos. Outro dia encontrei na mala do Correio um maço de jornais com o seu endereço. O conterrâneo encarregado da expedição não se pudera conter e escrevera : Ao imortal poeta Guimarães Passos...

Sebastião de Guimarães Passos sente-se bem nesta atmosfera e corresponde à admiração da terra com um carinho especial. Quando lhe entreguei o questionário disse gravemente:

— Vou pensar.

Dois dias depois não se lembrava mais.

— Oh! filho, é verdade, amanhã sem falta.

Afinal, uma tarde de chuva, sentados ambos diante de um bock, o poeta desdobrou imperialmente o questionário e julgou-o irrespondível.

— Muito difícil, meu caro, muito difícil.

Para a sua formação literária quais os autores que mais contribuíram? Se eu fosse responder, diria: o primeiro poeta que eu li e admirei, ainda na escola, foi Nicolau Tolentino.

Ainda hoje a influência se faz sentir.

Depois li Camões e Bocage. Finalmente comecei a estudar o grande padre Antônio Vieira.

Guimarães Passos tem uma absoluta adoração pelo extraordinário pregador, o maior diplomata e o maior artista da língua portuguesa. Sabe-lhe sermões inteiros de cor.

— Está a primeira pergunta respondida.

Quanto à preferência pelas minhas obras, tenho quatro volumes publicados.

Aqui o poeta fala vagamente dos seus versos, das críticas elogiosas, dos prefácios célebres no mundo, de Araripe Júnior, que lê muito...

— Das minhas obras gosto da outra metade — a metade que o público não gosta.

É obscuro mas chic. Bato palmas.

— Cá temos a segunda resposta.

O Brasil atravessa um período absolutamente estacionário. Não há lutas de escolas, não há mesmo escolas novas, poesia de ação e outras histórias. Ainda estamos com que os traquinas de café chamam os velhos — Aluísio Azevedo no romance, Bilac e Alberto de Oliveira no verso.

Neste ponto Guimarães Passos dá as suas impressões sobre os homens representativos da literatura pátria: — Coelho Neto, por exemplo, é um admirável artista, mas não é um romancista; Aluísio não tem um romance verdadeiramente romance com a nota individual; Araripe Júnior anda a ler tanto que acaba não sabendo como escrever. A impressão da França esmaga tudo.

— E a literatura dos Estados?

— Uma blague. Não é possível.

— E o jornalismo?

— O jornalismo?

— É um fato bom ou mau para a arte literária?

Guimarães Passos diz duramente:

— Péssimo. O jornalismo é o balcão. Não pode haver arte onde há trocos; não pode haver arte onde o trabalho é dispersivo.

E, abrindo os braços, Sebastião de Guimarães Passos conclui uma terrível catilinária contra o jornal.

Ai de nós!