O Momento Literário/XXVIII
O escritor paranaense Rocha Pombo, em geral tão prolixo, vence porém, o record da sobriedade. Parece quase impossível que seja este o Rocha Pombo do No Hospício e de alguns artigos, em que as revistas põem de vez em quando — continua.
O romancista manda-me numa tira de papel almaço, cortada em três pedacinhos, o seguinte:
1º. — A Bíblia, principalmente os Evangelhos; Homero, Virgilio, Dante, Milton, Carlyle, Hugo, Goethe, Klopstock e alguns outros mais; Vieira, Herculano, etc.
2º. — Das minhas obras eu prefiro as que não escrevi ainda. Se me instigar a destacar alguma coisa dentre as que tenho escrito — aí está: gosto mais de alguns dos meus contos, de algumas páginas do No Hospício e de um poemeto ainda inédito.
3º. — Não se pode dizer que atravessemos um período estacionário: creio antes que a obra desta geração vai ser uma das mais fartas e notáveis de toda a nossa história literária. — Não vejo escolas delimitadas: apenas tendências místicas em alguns, e noutros, no maior número talvez — a velha concepção naturalista da arte. Dou mais, muito mais, pelos primeiros.
4º. — É tão insignificante o movimento literário nos Estados que não acredito na possibilidade de se formarem literaturas à parte. Demais: ainda quanto à atividade intelectual — o Rio de Janeiro continuará a ser por muito tempo o Brasil.
5º. — Para os jornalistas de profissão — o jornalismo é um grande mal em toda parte. É o mais que se pode dizer. Para a arte literária, porém, a imprensa é um grande fator de progresso, pois estimula esforços, revela aptidões, destaca os mais capazes de vencer.