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O Rei Gaspar

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A caravana havia abandonado, na véspera, os seus camelos, na fonte de Siloé, e os três príncipes marcham, agora, a pé, e sozinhos, rumo de Belém pelas terras áridas que vão de Jerusalém ao mar Morto. As suas sandálias fazem rolar os seixos soltos pelas encostas, e vão, os trz6es, meditativos: à frente, Melchior, com o ouro; no meio, Baltazar, com o incenso; e atrás, destacando-se da noite sem lua apenas pela alvura do seu manto, Gaspar, o africano, portador da mirra cheirosa.

De qual, daqueles presentes, mais gostará o pequenino rei recém-nascido? — pensam eles, caminhando em silêncio.

— Com o ouro que eu levo, — imagina Baltazar, — comprará ele o seu palácio e a sua coroa, vestindo de túnicas suntuosas a multidão dos seus lacaios. Serei o preferido do seu coração.

— O incenso é destinado aos deuses — reflete Baltazar. — A minha homenagem falará ao seu orgulho, e à sua vaidade. Serei o primeiro na sua estima.

— A mirta é humilde e perfumada. É com ela que as mulheres se tornam mais desejadas, quando esperam, no fim da tarde, os amantes que andam no campo. Serei o confidente de sua vida, e cúmplice atento do seu desejo, — pensa Gaspar.

Melchior era claro, Baltazar era moreno. Gaspar era preto. Vem desse tempo, desse fato, e do desaforo dessa lembrança, o castigo, que pesa sobre os moleques, de servirem de alcoviteiros na vida amorosa dos brancos.