O Túmulo de Ciro
No gracioso "boudoir" de Júlia Berredo, estirada cada uma no se divã, a dona daquele ninho de amor conversava com a sua amiga mais íntima, a encantadora Maria Irene, quando aquela, a propósito de um "potin" malicioso, indagou:
— Não conheces a história de Ciro?
— O Ciro Fernandes?
— Não, filha; Ciro, o rei dos persas.
E começou:
— Quando Ciro morreu, os seus súditos ergueram-lhe um túmulo, no interior do qual cabia apenas um visitante. Sendo mister, porém, que o corpo do monarca não ficasse, jamais, sozinho, resolveram os sacerdotes que, toda a vez que saísse de lá um visitante, entrasse, logo, outro. E assim aconteceu, dia e noite, durante séculos.
Olhos interrogativos, Maria Irene fitava a amiga, sem compreender bem. E olhava— ainda, quando Júlia, num sorriso, levantou a ponta do mistério:
— Pois, menina, há mulheres assim...
E numa gargalhada:
— Sai um, entra outro!