O canário do Antônio

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Éramos três então e o crioulo: este devia
Ser mais velho que nós, mas, como nós, viera,
Donde nos vem flor, ninho, espaço, primavera,
E o azul... o grande, o vasto azul que nos cobria.
 
Tinha um canário o escravo, um canário que enchia
De luz sonora e ondeante a nossa casa austera:
E ao entornar a manhã oiro e mais oiro à esfera,
Fazia rir o céu, rir o sol, tudo ria.
 
Um dia o pobre Antônio, o corpo rijo e duro,
Ficou na cama, e ao prego a gaiola no muro:
Mas enquanto um cantava, o outro, o dono, morria...
 
Por um barquinho novo, alto, esbelto, atraído,
Deixei ir, ébrio e imbele, o pássaro querido...
E assim... foram-se os dois, e a primeira alegria.