O canto da serrana
Pomba do valle, que azinha
Vais tão distante á voar !
Si lá n’outras terras
Vagando por serras,
Tu vires o esposo,
Saudoso
A chorar…
Oh ! dize, avezinha,
Que triste e mesquinha
Falleço de dor !
Que n’este retiro
Saudosa deliro
De amor !
Pobre amor ! triste serrana
Traz dorido o coração !
Crueis agonias
Affeião-lhe os dias,
Chorando sem termo
No êrmo
Ao sertão !
Que sorte tyranna !
Na pobre cabana
Sosinha à gemer…
Que angustia ! que dores !
Podesse eu de amores
Viver !
—
Vivera vida de enleio
N’este deserto á sonhar,
Em vêz d’agro pranto,
Se ouvira o meu canto
Na brisa macia,
Que ancia
No ar !
Do esposo no seio,
Então sem receio
Podera eu dormir ;
E ao fresco do vento,
Da lua ao relento
Sorrir.
—
Vem ! terà, meu sertanejo,
Os favos de jatahy :
E’ tão saboroso,
Tão puro e cheiroso
O mel delicado,
Guardado
P’ra ti…
Ai ! vida ! n’um beijo
Bem fundo desejo
Se mata co’ardor
Do goso nos lumes
Sorvendo os perfumes
De amor.
—
Os meus compridos cabellos
Com baunilha os perfumei.
No leito macio
Te aguardo do frio
Com flores do monte
Que a fronte
Adornei.
Não queres mais vel-os ?
Meu Deus ! que de zelos
Eu vivo a sentir !
Nem um só momento
Me é dado ao tormento
Fugir !…
—
Escuta ! são teus filhinhos
Que choram por ti tambem !
Cruenta saudade
Era mesta soidade
Recresce na vida,
Ferida
Que têm !
Tres mezes sósinhos
Aqui, coitadinhos !
Sem verem seu pai !
Ai delles ! em pranto
Traduzem seu canto
N'um ai !
—
Volta, volta, meu tropeiro
Que è deserto o teu casal.
Da pobre morena
Adoça-lhe a pena,
Subindo p'ra serra
Da terra
Natal.
Cruel forasteiro !
Procura o carreiro
Do gamo veloz ;
Nos braços d'amante
Ai ! pousa um instante
A' sós !…